Ano VII

Festival do Rio – Dia 2

domingo out 4, 2015

DIÁRIO DO FESTIVAL DO RIO

DIA 2 – SABADO – 03/10, por Gilberto Silva Jr. 

 

1787370918_1fd4zMbu_Undulant.Fever.2014.JAP.BDRip.x264.AC3-ADiOS.mkv_20150516_213356.350

FEBRE ONDULANTE (Umi o Kanjiru Toki), de Hiroshi Ando (Japão, 2014)

Com saltos temporais, Febre Ondulante acompanha a obsessiva relação de paixão e dependência que a jovem Emiko estabelece com o colega de colégio Hiroshi, que, em principio, a despreza. O jogo entre os dois segue pelo inicio da vida adulta. A opressão sexual às mulheres no Japão toma destaque evidente, na forma em que Emiko aceita ao mesmo tempo a submissão e usa o sexo como forma de assumir sua identidade feminina diante da mãe repressora. Imagens da moça vagando por um cais ou pelas ruas sugerem Emiko como uma versão mais recente de Adèle H. O diretor, Ando, usa um ritmo pausado que permitiria uma penetração na intimidade e motivação dos personagens, mas a verdade é que, na prática, Febre Ondulante acaba se limitando a uma infinita e tediosa sucessão de coitos, humilhações e DRs. O saudoso Nagisa Oshima provavelmente extrairia alguma coisa relevante desse material. Ando, entretanto, não demonstra a menor competência para tal.

* * *

office_f02cor_2015110460

ESCRITÓRIO (Hua Li Shang Ban Zu), de Johnny To (Hong Kong / China, 2015)

Mesmo sendo dirigido pelo experiente Johnny To – abandonando seu terreno habitual do gênero policial – há que se creditar em Escritório uma coautoria da cineasta Sylvia Chang (20, 30, 40), aqui roteirista, produtora (junto a To) e atriz. To se aventura em conduzir uma comédia musical que parodia de forma ácida o universo das grandes corporações. Após um impacto inicial, vindo em especial do apuro visual da direção e de um cenário que une, em cores vivas, os imensos escritórios de Se Meu Apartamento Falasse às filas, relógios e elevadores do submundo de Metrópolis, tem-se a impressão que as os elementos díspares não irão se encaixar adequadamente. Porém, com o desenvolvimento da trama e dos personagens, To e Chang conseguem amarrar um todo com eficácia, quase sempre superando a fraqueza da maioria das canções com uma fusão de ironia, crítica mordaz e tragicomédia, além de alguns momentos de direção bastante inspirados. O resultado final impacta e quase sempre concretiza as intenções do projeto. Mesmo não se tornando mais um momento memorável da carreira de To, Escritório se impõe como uma experiência curiosa e gratificante.

* * *

11-Minutes-Still

11 MINUTOS (11 Minut), de Jerzy Skolimowski (Polônia / Irlanda, 2015)

Não há outra palavra senão ‘frustração’ para descrever o sentimento causado por 11 Minutos. Cinco anos depois do brilhante Essential Killing, Skolimowski parece abrir mão de todo o poder de reflexão que seu cinema desenvolvera, ao longo de décadas, em favor de um impacto fácil e quase sempre gratuito. Ao acompanhar a trajetória de diversos personagens, indo e voltando no tempo ao longo dos 11 minutos do título, Skolimowski desenterra o jogo de esteticismo vazio consagrado por Tom Tykwer em seu nefasto Corra, Lola, Corra!. As informações sobre situações e personagens que vão sendo liberadas gradativamente irão convergir para um final bombástico e trágico. É certo que Skolimowski usa sua longa experiência como cineasta para habilmente manipular montagem e edição de som criando uma brincadeira com tempo e espaço que consegue manter a atenção do espectador quase sempre acesa. Entretanto, a sensação de que os caminhos trilhados levarão a um destino no mínimo discutível nunca desaparece, se concretizando de forma literalmente explosiva num final calcado em opções de roteiro e mise-em-scène batidas e cafonas, além de incoerentes com toda a obra passada do autor.

© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br