Ano VII

Dois Dias, Uma Noite

quinta-feira out 23, 2014

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Dois Dias, Uma Noite (Deux Jours, Une Nuit, 2014), Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne.

O cinema dos irmãos Dardenne já rendeu obras-primas inquestionáveis e a expectativa sobre qualquer filme deles é imensa. Dois Dias, uma Noite é um trabalho menor, mas não deixa de ser um grande filme da dupla.

No centro, a família e a questão social, mas por outro prisma: a da luta do individuo fragilizado frente a um sistema que só pensa em produtividade e lucros e que acaba desumanizando pessoas e enfraquecendo laços sociais que um dia, numa outra Europa, existiram. Em Dois Dias e uma Noite, entre outras polaridades, o que está em jogo é a relação individuo x coletividade.

O individuo no caso é Sandra, mãe de duas crianças e casada com Manu. Ela volta ao trabalho, depois de um tempo afastada da empresa, devido a uma depressão, mas é demitida dias depois e, para reaver o emprego, precisa convencer nove de 16 colegas de trabalho a votar pela readmissão; o problema é que se votarem a favor de Sandra, perderão um bônus de mil euros.

A Sandra do filme é vivida pela atriz Marion Cottilard. E se qualquer bom ator cresce muito quando dirigido pelos Dardenne, pois o filme é feito para eles, visto que a dupla filma os corpos com proximidade, é epidérmico sempre; com alguém do naipe de Marion Cotillard, o filme ganha ainda mais peso, ainda que Sandra seja miudinha e frágil, tendo que tomar comprimidos e comprimidos de anti-depressivo para manter-se em pé.

Há quem diga, e com certa razão, que a jornada de Sandra buscando convencer os colegas nestes dois dias e uma noite torna o filme esquemático. A crítica não é de todo infundada, mas o tema é tão atual que se sobrepõe a essa questão formal, e nos remete, de imediato, aos filmes engajados de Guediguian e até a Questão Humana de Nicolas Klotz. Fora isso, a forma como Cotillard personifica Sandra, vale o ingresso.

Cesar Zamberlan

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Confira também o texto de Cala Nogueira sobre o mesmo filme. 

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