Ano VII

No Lugar Errado

quarta-feira set 4, 2013

No Lugar Errado (2011), de Luiz e Ricardo Pretti, Pedro Diógenes e Guto Parente

Terceiro longa-metragem da trupe formada por Luiz e Ricardo Pretti, Pedro Diógenes e Guto Parente, da produtora cearense Alumbramento, No Lugar Errado revela uma procura por novos ares, fora da primeira pessoa do plural trilhada por eles em Estrada para Ythaca e Os Monstros.

De início vemos um palco de teatro. Trata-se de uma adaptação cinematográfica da peça Eutro, escrita pelo jovem dramaturgo Rodrigo Fisher (também um dos atores). O palco representa a sala de um grande apartamento em Brasília, onde quatro amigos se reúnem.

São dois homens e duas mulheres que remoem casos passados e coisas mal resolvidas entre eles. Provocam-se uns aos outros, num exercício de dramaturgia e intimismo. A bebedeira provoca os excessos, e depois vem o constrangimento. É assim no filme, como na vida.

Os diretores deixam todo o restante do cenário na escuridão, no que parece ter a grande influência de Longa Jornada Noite Adentro, peça de Eugene O'Neill adaptada por Sidney Lumet em 1962. A escuridão parcial é uma forma de fazer-nos acreditar que o palco é uma sala de verdade, com decoração mínima (dois pufes e um tapete). O cinema é reiterado pelas diversas angulações de câmera e pela exploração inteligente da descentralização do quadro e do extracampo.

Nesse sentido, é notável também o trabalho com o som, que permite, por exemplo, a audição de diálogos paralelos no começo (num trabalho semelhante ao realizado no filme português Sangue do Meu Sangue, de João Canijo). 

No Lugar Errado revela mesmo uma série de parentescos. Além da relação com Lumet e Canijo, há, por exemplo, uma sintonia com o trabalho de Carmelo Bene, cineasta e dramaturgo italiano falecido em 2002, um dos grandes artistas a promover o encontro entre teatro, cinema e TV.

Num momento intenso, que mostra em planos fechados nos rostos o constrangimento dos quatro amigos, há uma quebra repentina (com um corte igualmente brusco) pelo riso de uma das moças. Outras quebras ocorrem, o jogo de encenação é finalmente explicitado, e os amigos se alternam como espectadores das performances uns dos outros.

Sérgio Alpendre

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P.S. Por algum motivo absurdo, a exibição de No Lugar Errado em São Paulo ocorreu sem o curta programado para compor a sessão: Noite, de Bruno Andrade. O público paulistano perdeu. 

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