Ano VII

Ginger & Rosa

quinta-feira abr 25, 2013

Ginger & Rosa (2012), de Sally Potter

Atualmente, temos muitos atores e atrizes de talento, mas poucos diretores capazes de realizar algo realmente forte com matéria prima tão qualificada. Daí que o cinema está infestado de filmes de atores, bons ou maus (ou, a imensa maioria de obras sem rosto, que alternam bons e maus momentos).

Ginger & Rosa é mais um filme de atores. As adoráveis Elle Fanning e Alice Englert vivem as personagens do título, adolescentes cujo laço de amizade que parecia eterno começa a ruir quando os interesses sexuais de uma colidem com os da outra.

O momento histórico em que a trama se passa é tenso. Estamos em Londres, durante a Crise dos Mísseis, em 1962. Do outro lado do Atlântico, John F. Kennedy e assessores brigam para evitar a guerra nuclear – que se dependesse de seus militares, teria rolado. A história é muito bem contada por Roger Donaldson em Treze Dias Que Abalaram o Mundo, também um filme de atores, de certo modo, mas que certamente transcende essa característica com uma boa noção de ritmo e uma encenação precisa.

Em Ginger & Rosa, um filme de atores bem irregular, Ginger se envolve cada vez mais com os protestos anti-nucleares, mas o que a preocupa, mesmo, é a separação de seus pais – Christina Hendricks, numa atuação impagável, e Alessandro Nivola – e o desejo sexual de Rosa por seu pai.

Personagens secundários surgem amparados também por grandes atores: Oliver Platt, Timothy Spall e Annette Bening.

O problema está mesmo na direção de Sally Potter, mais do que no roteiro escrito por ela mesma. Ela recua nos momentos mais dramáticos, exceto na hora da verdade que se segue a um surto de Ginger, após uma manifestação de rua.

Nessa cena chave, que reúne todo o elenco, a diretora mostra que não consegue sustentar o momento de dor e confusão dos personagens, pois opta por uma montagem que rompe a continuidade e praticamente sabota o trabalho dos atores.

Aí descobrimos o porquê dos recuos anteriores.  

Sérgio Alpendre

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