Ano VII

Tudo é Brasil

terça-feira dez 18, 2012

Tudo é Brasil (1997), de Rogério Sganzerla

Continuando com sua obsessão pela visita de Orson Welles ao Brasil, já trabalhada em Nem Tudo é Verdade, de 1986, Sganzerla filma Tudo é Brasil, apresentando uma primorosa colagem de fotos, gravuras, reportagens e filmes antigos.

Mais do que entender a passagem do garoto prodígio de Hollywood por aqui, o que o diretor brasileiro quis foi compreender o Brasil com a ajuda do olhar de alguém de fora (algo que fica bem claro já aos 15 minutos, quando Welles tenta descrever o gaúcho, ou entender "a anatomia do samba"); o Brasil da época (1942), mas também sua história, a ligação com os Estados Unidos, a forma com que os brasileiros lidam com artistas, as diferenças de costumes, a música e tantas outras coisas que vamos descobrindo enquanto o filme passa.

O ritmo é alucinado. Imagens se atropelam como que em fuga constante. Uma piscadela e perdemos alguma informação, alguma conexão necessária ao entendimento geral pretendido por Sganzerla. A junção dessas imagens com falas e conversas veiculadas pelo rádio produzem uma faísca considerável, necessária para o tipo de aventura a que se propõe.

O filme se inicia com um clipe de Carmem Miranda cantando "O Que é Que a Baiana Tem?", destacado de algum filme que agora me escapa. A cantora, assim como o próprio Orson Welles, foi usada (ou tentaram usar a ambos) na época como peça de conjunção entre os espíritos brasileiro e americano na época, um esforço da cúpula imperialista, receoso de que os brasileiros capitaneados por Getúlio Vargas se afinassem aos nazistas, num contexto em que os Estados Unidos haviam acabado de entrar na Segunda Guerra Mundial.

Sganzerla fala também dessa situação em que artistas foram usados como embaixadores para promover uma base aliada necessária a combater as forças do eixo. Cinema e história, muito apropriadamente tratados por uma de nossas mentes mais brilhantes.

Na riqueza de imagens de Tudo é Brasil, cabe até Ultraman, o seriado japonês da infância de quarentões como eu. Sganzerla tem o dom de aproximar naturalmente momentos tão distintos das expressões artísticas e do entretenimento mais corriqueiro.

Sérgio Alpendre

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