Ano VII

Uma visão de conjunto do cinema brasileiro nos últimos 20 anos

terça-feira dez 18, 2012

Algumas publicações, impressas ou virtuais, que trazem uma visão de conjunto do cinema brasileiro nos últimos 20 anos.

Por Cesar Zamberlan

Não são muitos os livros ou as publicações virtuais que tratam do conjunto do cinema brasileiro nos últimos 20 anos, período que compreende os primeiros anos após o fim da Embrafilme (no governo Collor, no início ano 90), a retomada da produção, após a entrada em vigor de leis de incentivo como a Lei Rouanet (1991) e Lei do Audiovisual (1993), e os anos seguintes, dos quais decorre toda a grande produção destes anos, até chegar ao ano de 2012, data que a Revista interlúdio publica esse dossiê. Listo aqui algumas das mais importantes, buscando, apenas, facilitar a pesquisa para aqueles que se interessam pelo tema.

1 – A principal reflexão sobre o cinema brasileiro dos anos 90 está na Revista Praga, de número 9, publicada em junho do ano 2000. A Revista de Estudos Marxistas, editada pela Editora Hucitec, traz das páginas 97 a 13X uma longa entrevista com o professor Ismail Xavier da Escola de Cinema e Artes da USP. Impossível analisar aqui os principais pontos da entrevista denominada O Cinema Brasileiro dos anos 90, pois a entrevista, além de ampla, aborda com enorme profundidade o período e é absolutamente imprescindível para quem gosta de cinema e estuda a década.

2 - Para entender como se deu o desenvolvimento da produção neste período tendo como base os mecanismos de financiamento da produção e toda a lógica do mercado audiovisual, um documento bastante ilustrativo é o livro Cinema, Desenvolvimento e Mercado, publicado em 2003 pela Editora Aeroplano, com apoio do Governo Federal, BNDES e Filme B. O livro organizado por Paulo Sérgio Almeida e Pedro Butcher, fundador e editor, respectivamente da Filme B, portal na internet fundado para tratar dos números do cinema nacional, e que traz dados fundamentais para entender o que aconteceu no cinema brasileiro nestas duas ultimas décadas (http://www.filmeb.com.br/portal/html/portal.php).

Cinema, Desenvolvimento e Mercado é, em síntese, um resumo da historia do mercado audiovisual, da Embrafilme à retomada, o que possibilita compreender o processo e os problemas que cercam o desenvolvimento do cinema brasileiro no período. O livro explica o papel do BNDES, apoiador da obra, no desenvolvimento do cinema brasileiro; explica como se deu a retomada da produção; trata da distribuição de filmes, abordando o papel da Rio Filme, das independentes e das majors; aborda o cenário da exibição com a entrada em cena do vídeo, DVD e televisão; contextualiza o papel da produção brasileira do período no panorama internacional e depois lista os filmes nacionais que participaram de festivais no exterior e os principais prêmios recebidos,  lista os eventos anuais que promovem o cinema brasileiro no exterior e os filmes que foram apoiados pelo BNDES até 2003.

Fechando o livro, temos um texto de Luiz Gonzaga de Luca, intitulado “Anotações para o desenvolvimento de uma indústria cinematográfica brasileira” no qual o autor, com larga atuação na área de distribuição e exibição de filmes, faz um alerta em relação ao gargalo na exibição dos filmes brasileiros. Diz ele: “Para ter um mercado para os filmes brasileiros é necessário, primeiramente estruturar um mercado de consumidores e, para atingi-los, é necessário que sejam construídos novos cinemas e que se incentive a ocupação das poltronas ociosas. A atual rede de salas de exibição é pequena, regionalizada e insuficiente, inviabilizando uma politica de produção nacional”.

3 – Outro livro que trata desta questão, mas não só de questões envolvendo o mercado, é o livro Cinema Brasileiro, 1995 – 2005, ensaios sobre uma década, organizado por Daniel Caetano e publicado em 2005 pela Azougue Editorial. A principal interrogação do livro, no entanto, colocada logo nas primeiras linhas do texto introdutório, assinado por Daniel Caetano, Eduardo Valente, Luís Alberto Rocha Melo e Luiz Carlos Oliveira Jr é a imagem que se poderia reter do cinema brasileiro no período. O quarteto, pertencente à revista eletrônica Contracampo, um marco da crítica eletrônica brasileira dos anos 90, responde a questão afirmando que “não há uma imagem definida: o mapa deste cinema assemelha-se a uma geografia branca, um lugar indiscernível. Um imaginário, certamente – mas um imaginário não cristalizado, que se apresenta menos como catálogo iconográfico e mais como um conjunto caótico de formas e enredos”.  Os autores continuam o balanço da década afirmando que, no período, o cinema brasileiro não construiu uma cinematografia sólida, embora tenha produzido muitos filmes. Que: “Não promoveu a circulação de obras, mas aumentou a variedade de formas. Revelou novos talentos, mas não teve qualquer objetivo agregador que oferecesse caminhos comuns a uma nova geração. Não delineou movimentos estéticos – ao menos não nos moldes que permitiriam uma condensação histórico-crítica -, mas vestiu a máscara ideológica da ‘retomada’. Não haverá, portanto, um nome para este cinema. Tampouco um rosto”.

Dentro desta perspectiva, o livro é dividido em seis partes: Temas e Gêneros, Abordagens, Características históricas, Crônicas, Entrevistas com técnicos e Entrevistas com cineastas.  Dentre os textos, Cléber Eduardo trata da distopia presente em vários filmes, nos quais, como escreve o autor, “o futuro está sempre lá fora”. Luís Alberto Rocha Melo, relaciona o cinema da retomada às linhas de produção do cinema brasileiro anterior, pensa no papel do produtor na construção da cinematografia da retomada, bem como “na permanência e na diluição de uma certa tradição do filme popular de gênero no interior do cinema que se produziu (e que se construiu ideologicamente)” durante o período. Guilherme Sarmiento escreve sobre a ausência da figura do intelectual, ou sua presença ideologicamente como tendência de alguns filmes deste período de tempo compreendido pelo livro.  Ainda na seção Temas e Gêneros, Paulo Ricardo de Almeida trata das comédias de situação e da construção do espaço urbano e Juliana Fausto da relação dos filmes desta época com a história, visto que o filme que marca a retomada é Carlota Joaquina.

Abrindo a seção Abordagens, Tatiana Monassa, num dos mais interessantes textos do livro, pensa na questão da imersão provocada por alguns filmes em relação ao seu tema, ou como está no titulo do texto, “como a postura cinematográfica determina uma postura social”. Muitos filmes daquele decênio que, como ela escreve, estão, de certa forma, afastados da realidade ou a observam numa distância segura; na contramão deste cinema, o filme base da sua análise é Madame Satã no qual a imersão com o personagem e seu mundo se dá fortemente. No texto seguinte, Filipe Furtado trabalha com os modos de performance, com a figura do ator no cinema daquele período, e, depois dele, Cleber Eduardo fala do filmes narrados em primeira pessoa, usando como titulo e elemento para a problematização, o verso de Rimbaud, “Eu é um outro”.

Na secção Características Históricas, Luciana Corrêa de Araújo aponta para um dado novo da produção dos anos 90 que é o aumento do número de mulheres dirigindo e faz um retrospecto desta produção; Arthur Autran trata da imagem da classe média no documentário brasileiro; Bernardo Oliveira trata de filmes feitos em oficinas ou por coletivos, filmes que não pertencem ao que ele chama de linhagem oficial; Filipe Furtado, no artigo intitulado “História Espectral do Cinema Brasileiro (1995 – 2005)”, ensaia, tendo como exemplo Godard em Historie(s) du Cinéma, uma breve geologia do terreno do cinema brasileiro deste período não ficando apenas naquilo que deu certo ou que é mais visível, mas pensando “nas várias camadas perdidas no solo do cinema brasileiro no terreno do longa metragem”, ou seja, nos filmes distribuídos que quase não aconteceram junto ao público por buscarem um contato com um publico que já não existe mais, nos filmes que ficaram confinados ao circuito de festivais e a modos alternativos de exibição e aos fragmentos de filmes incompletos ou projetos que não saíram do papel.

Na seção Crônicas, Inácio Araújo, no texto mais saboroso do livro, escreve sobre Jairo Ferreira e Daniel Caetano volta à questão da identidade do cinema brasileiro, pensando não só no cinema da “retomada”, mas o cinema brasileiro de nodo mais amplo, passando por considerações  desenvolvidas a respeito por Jean-Claude Bernadet, Paulo Emilio e até pelo ator Paulo José quando disse que “o Brasil ainda faz os melhores filmes brasileiros do mundo”. Fechando o livro, temos uma série de entrevistas, com técnicos, pelo menos à época, como Sara Silveira, Fernando Bonassi, Silvio Da-Rin, Walter Carvalho e Cezar Migliorin; com cineastas, caso de Beto Brant, Carlos Reichenbach, Domingos de Oliveira, Fernando Meirelles, Joel Pizzini, Jorge Furtado, Paulo Sacramento, Tata Amaral e Walter Salles, e a lista de filmes que tiveram a primeira exibição pública entre os anos de 1995 e 2005, seja no circuito, seja em festivais.

4 – Outro livro chave para melhor entendermos o cinema dos anos 90 é o “Cinema novo de novo – um balanço crítico da retomada”, escrito pelo crítico de cinema Luiz Zanin Oricchio, editado pela Estação Liberdade em 2003 e com prefácio assinado por Ismail Xavier. Zanin, como observa Ismail, traça o retrato de um período que segundo ele é de transição e que se fecharia com o êxito e todo potencial catalisador de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles.

O livro, como esclarece o autor na apresentação, busca analisar a maneira com os filmes refletiram e construíram a imagem do país no período e foi estruturado a partir de questões suscitadas por um conjunto de filmes. Estratégia, como ele mesmo lembra, adotada também pela “Mostra Cinema Brasileiro anos 90, 9 Questões” (trataremos deste evento mais a frente). Zanin diz ainda que o livro é uma tentativa pessoal de dar sentido à experiência, em aparência fragmentária, do cinema brasileiro, e ressalta que o seu enfoque é mais jornalístico e que não tem o distanciamento e a profundidade do texto acadêmico.

Na introdução, Zanin contextualiza historicamente como foi o fim da Embrafilme, trata dos reflexos do fechamento da empresa na produção cinematográfica dos anos seguintes, anos que nos deram um número de filmes bastante pequeno, para abordar a retomada iniciada em 1995 quando começaram a aparecer os primeiros filmes oriundos da Lei do Audiovisual, entre eles, Carlota Joaquina de Carla Camuratti que, ao fazer mais de 1 milhão e 200 mil espectadores, recolocou o cinema brasileiro no centro das discussões. O crítico cita ainda uma série de dados, números e questões relativas ao mercado audiovisual da época, e explica como se deu o novo modelo de produção, agora baseado em leis de incentivo e renúncia fiscal. Na sequencia do texto, Zanin relaciona a “suposta” diversidade da produção, na sua variedade de temas, gêneros e estilos, ao momento histórico mundial, pós guerra fria, queda do muro e URSS, bem como ao momento histórico do país, depois da abertura democrática, anos Collor/Itamar, FHC e Lula, para chegar a questão, que será central no livro, que é a da identidade nacional resgatada, como tema,  e como centro de tensões por esses novos filmes, retomando aquilo que Zanin denomina de “linha evolutiva de uma tradição”, e tradição não só fílmica, mas também de todo o pensamento que busca responder, entre outras perguntas, a pergunta básica que seria: quem somos?

Nesta linha, o primeiro capítulo do livro trata justamente da representação da história, pegando as principais questões tratadas pelos filmes que abordam a questão, caso do Brasil carnavalizado de Carlota Joaquina (1995), de Carla Camuratti; dos filmes que trataram da participação do país na 2ª Guerra, caso de Rádio Auriverde (1991), de Sylvio Back, e de Senta Pua (1999) de Erick Castro; dos filmes que tratam do passado mais distante e do mito de origem, caso de Brava Gente Brasileira (2000), de Lucia Murat, Hans Staden (1999), de Luiz Alberto Pereira e Desmundo (2002), de Allan Fresnot e, fechando o capítulo, Zanin trata dos filmes que retrataram figuras históricas como Mauá, o imperador e o rei (1998), de Sérgio Rezende, e Guerra dos Canudos (1997), do mesmo diretor.

O titulo do segundo capítulo é “Eu e o outro” e trata diretamente da questão da identidade. Os filmes relacionados ao tema são: Como nascem os anjos (1996), de Murillo Salles, O que é isso, companheiro? (1997), de Bruno Barreto, For All, trampolim da vitória (1997), de Luiz Carlos Lacerda, Banana is my business (1995), de Helena Solberg, Policarpo Quaresma, herói do Brasil (1998), de Paulo Thiago, O príncipe (2002), de Ugo Giorgetti, Terra Estrangeira (1995) de Walter Salles e Daniela Thomas, Amélia (2000) de Ana Carolina e Estorvo (2000) de Ruy Guerra.

O terceiro capítulo do livro trata da esfera privada, filmes que tematizam os relacionamentos amorosos ou familiares, caso de Pequeno Dicionário Amoroso (1997), de Sandra Werneck, Amores (1997) de Domingos Oliveira, Veja Esta Canção (1994), de Cacá Diegues, Um Céu de Estrelas (1996), de Tata Amaral, O Viajante (1999), de Paulo Cezar Saraceni, Coração Iluminado (1998) de Hector Babenco, Bicho de Sete Cabeças (2001), de Laís Bodanski, Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho, Abril Despedaçado (2001), de Walter Salles, Central do Brasil (1998), também de Walter Salles, Através da Janela (2000), de Tata Amaral, A ostra e o Vento (1997), de Walter Lima Jr. e O Sertão das Memórias (1996), o esquecido filme de José de Araújo que seria, segundo Zanin, provavelmente o único entre os filmes do período no qual a figura tradicional do pai e da mãe está “equilibrada sobre seus pés, serena e assegurada” até porque, como lembra o crítico, o filme trata de um tempo mítico e não do momento contemporâneo.

No capítulo que dá conta da esfera pública, Zanin trabalha com filmes como Alma Corsária (1992) e Dois Córregos (1999), ambos de Carlos Reichenbach, Ação entre Amigos (1998), de Beto Brant, Lamarca (1994), de Sérgio Rezende, O que é isso, companheiro? (1997) de Bruno Barreto, Doces Poderes (1997), de Lúcia Murat e um outro filme bastante esquecido hoje em dia que é A Terceira Morte de Joaquim Bolivar (2000), de Flávio Candido.

Já o capítulo que tem como titulo “O Sertão e a Favela” trabalha com filmes que se dão nestes dois espaços bastante reiterados pelo cinema brasileiro. Entre os filmes que tematizam as tensões vividas no sertão, o autor se detém em questões trazidas por Guerra dos Canudos (1997), de Sérgio Rezende, O sertão das Memórias (1996), José de Araújo, Baile Perfumado (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, Central do Brasil (1998) e Abril Despedaçado (2001), de Walter Salles e Eu, Tu, Eles (2000), de Andrucha Waddington. Já os que se passam no ambiente da favela são: Orfeu (1999), de Cacá Diegues, Babilônia 2000 (1999), de Eduardo Coutinho, Uma onda no ar (2002) de Helvécio Ratton e Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles.

O capítulo seguinte, “Classes em choque”, trata da desigualdade social do país e do abismo social. Zanin trabalha com os filmes Quem Matou Pixote (1996), de José Jofilly, Como nascem os anjos (1996), de Murilo Salles, 16060 (1996), de Vinicius Mainardi, Cronicamente inviável (2000), de Sérgio Bianchi, Sábado (1994), de Ugo Giorgetti, Auto da Compadecida (2000), de Guel Arraes, Domésticas (2001), de Fernando Meirelles e Nando Olival, O Invasor (2001), de Beto Brant e Ônibus 174 (2002), de José Padilha.

No penúltimo capítulo do livro, Luiz Zanin trata dos filmes do período que tematizaram a violência e os crimes, lembrando de filmes como A Grande Arte (1991), o primeiro filme de Walter Salles, Bufo & Spalanzani (2000), de Flávio Tambellini, Bellini e a Esfinge (2001), de Roberto Santucci, Terra Estrangeira (1995), de Walter Salles, Os Matadores (1997) e O Invasor (2001), de Beto Brant, Carandiru (2000), de Hector Babenco e Perfume de Gardênia (1995), de Guilherme de Almeida Prado.

Fechando o livro, temos o capítulo “A crítica e o cinema impuro” no qual Zanin aborda várias questões, escreve sobre o papel do critico; sobre a necessidade de se escrever uma história da crítica de cinema no Brasil; sobre o relacionamento da crítica com o cinema brasileiro; sobre a posição desta diante do cinema novo; sobre a trajetória e o legado de Paulo Emilio; sobre os desafios e polêmicas levantadas pela crítica nos anos 90, tendo em vista especialmente Cidade de Deus; sobre a necessidade de pensar o cinema da época como um cinema mais hibrido ou impuro diante do contato com a linguagem televisiva e também da publicidade; sobre a nova geração de cineasta que despontava, casos de Beto Brant, Tata Amaral, Fernando Meirelles e Jorge Furtado e, nas últimas páginas do livro, sobre a busca de uma identidade e originalidade nos filmes do período que analisa.

5 – Outro livro obrigatório para compreender ou ter informações obre o período é O Cinema da Retomada – Depoimento de 90 cineastas dos anos 90, de Lúcia Nagib, editado pela Editora 34, em 2002, com patrocínio da Petrobrás.

No livro, que também tem prefácio assinado por Ismail Xavier, Lúcia mapeia o período que vai de 1994 a 1998, graças a um projeto de pesquisa coordenado pela autora em conjunto com um grupo de 13 pesquisadores do Centro de Estudos de Cinema do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC SP. Lúcia e equipe entrevistaram 92 dos 99 cineastas que fizeram os 101 filmes do período delimitado na pesquisa, como dois pediram para não ter seu material publicado, restaram 90 entrevistas.

Todos os cineastas responderam as mesmas questões, tratando da sua formação, a história da vida e o que os levou ao cinema; depois as influências, os filmes, livros e peças que formaram a base cultural de cada um; os fatos que marcaram a carreira; a relação com outros cineastas e outras fases do cinema brasileiro; a relação com as cinematografias estrangeiras e com os principais momentos da história do cinema, tanto os mais antigos, como os mais contemporâneos; as relações e opções políticas, e as influências no ato de filmar; a forma como a “evolução econômica e politica” pesou na carreira deles; a carreira do filme, recepção do público, crítica e em festivais; como o cineasta avaliava a política de incentivos, o que deveria permanecer ou mudar; os projetos futuros e, por fim, quais os rumos o cinema brasileiro estava tomando e que rumos, segundo estes cineastas, ele deveria tomar.    

Entre os entrevistados, muitos cineastas estreantes – na introdução do livro, Lúcia ressaltando o grande número de diretores que estreavam no país com seus primeiros filmes naquele momento -, cerca de 15 mulheres diretoras – Lúcia, na introdução, ressalta o aumento significativo no número de mulheres que começaram a dirigir no período -, cineastas com uma carreira já sólida na época e cineastas que acabaram nos anos seguintes sumindo do mapa cinematográfico.  

O livro, entre outros, traz entrevistas de: Neville de Almeida, Tata Amaral, João Batista de Andrade, Hector Babenco, Bruno e Fábio Barreto, Djalma Limongi Batista, Jean-Claude Bernadet, Sérgio Bianchi, Beto Brant, Eliane Café, Paulo Caldas e Lírio Ferreira, Carla Camuratti, Hugo Carvana, Cacá Diegues, Antônio Carlos Fontoura, Alain Fresnot, Jorge Furtado, Ugo Giorgetti, José Joffily, Walter Hugo Khouri, André Klotzel, Luiz Carlos Lacerda, Walter Lima Jr., Fernando Meirelles, Susana Moraes, Lúcia Murat, Denoy de Oliveira, Domingos de Oliveira, Luiz Alberto Pereira, Helvécio Ratton, Aloysio Raulino, Carlos Reichenbach, Sérgio Rezende, Walter Rogério, Alberto Salvá, Nelson Pereira dos Santos, Paulo Cezar Saraceni, Rogério Sganzerla, Helena Solberg, Talicio Sirino, Rosane Svartman, Paulo Thiago, Toni Venturi, Arturo Uranga, Sandra Werneck, Tizuka Yamazaki, entre outros.

6 – Igualmente fundamental pela proposta e universo que mapeia é o livro Cinema de Garagem – Um inventário afetivo sobre o jovem brasileiro do Século XXI, de Dellani Lima e Marcelo ikeda, lançado na Mostra de Tiradentes em 2011. O livro que pode ser adquirido junto aos autores ou pela internet (contato@wsetmultimidia.com), faz um panorama da produção independente audiovisual brasileira da década de 2001 a 2011, “imagens, sons e intervenções produzidos após os anúncios do fim da história e da arte”, como explicam os autores, e que, “na maioria das vezes se opõem às práticas comerciais do mainstream”.

No livro, Dellani e Marcelo ikeda afirma que 2010 foi um ano paradigmático na renovação de um cinema brasileiro pela premiação de Estrada para Ythaca (2010), de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti na Mostra de Tiradentes e de O Céu sobre os Ombros (2010), de Sérgio Borges, no Festival de Brasília. Premiação que não serviu apenas para legitimar os filmes, mas funcionou para dar visibilidade a uma produção bastante ampla que já se configurava muitos anos antes destes prêmios. Os autores, sem querer dar conta de um movimento tão amplo, acabam construindo um rico mapa desta produção.

O livro está estruturado da seguinte forma: um artigo contextualizando historicamente o momento; outro sobre a cena que se constitui a partir da possibilidade de utilização do digital e seus impactos seja na produção, na divulgação, na exibição e na construção de redes de contato, inclusive dos sites e blogs com critica e reflexão sobre este e outros cinemas; um inventário de algumas produções do período; um texto intitulado “A genealogia da coletividade” que inventaria coletivos, núcleos e produtoras independentes; um texto que lista alguns canais de exibição; um breve texto, uma lista talvez, chamado “Antropofagia” que reúne nomes de artistas fundamentais que servem de influência a estes produtores; uma lista de artistas, canais e gravadoras independentes relacionadas à música; uma página com as bitolas cinematográficas e o ano em que surgiram; uma relação de formatos de armazenamento de vídeo e áudio, digitais e analógicos; várias páginas com trechos de conversas via e-mail ou telefone com realizadores diversos, como Cao Guimaraes, Carlosmagno Rodrigues, Helvécio Marins, Joacélio Batista, entre outros; textos curatoriais assinados pelos autores ao longo destes anos e em mostras e festivais como a Mostra de Cinema de Garagem, Mostra Vídeo do Itaú Cultural, textos, ensaios e críticas  publicados nestes anos em sites como o cinecasulofilia e Curta o Curta; textos sobre alguns realizadores e a cena contemporânea de Minas, do Ceará; além de uma série de fotos e textos sobre alguns dos filmes independentes do período.

7 – Duas publicações virtuais, resultantes de Mostras que procuraram uma visão de conjunto dos anos 90 e dos anos 2000, fazem também parte do material imprescindível para entender o cinema brasileiro nestes últimos 20 anos: a primeira publicação é Cinema Brasileiro: 
Anos 90, 9 Questões
, da revista eletrônica Contracampo ( em http://www.contracampo.com.br/26especial/frames.htm ) e a segunda da Revista Cinética, uma cisão da própria Contracampo, e trata dos anos 2000, Cinema Brasileiro anos 2000, 10 questões.

A Mostra “Cinema Brasileiro anos 90, 9 questões” realizada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro em 2001. O evento exibiu ao longo de nove dias, 54 longas brasileiros e organizou uma série de debates, tomando por base 9 perguntas propostas pela curadoria a partir de um levantamento completo dos filmes produzidos no período. Além dos filmes e dos debates, foi publicado um catálogo que hoje ainda pode ser adquirido, com alguma sorte, em sites como o Estante Virtual. O catálogo foi organizado pelo professor João Luiz Vieira e pelos editores da Revista Contracampo, à época, Ruy Gardnier e Eduardo Valente.

Os textos disponíveis no site, mais extensos que no catalogo, são relativos às nove questões e são: “Como se constrói um país?”, assinado por Ruy Gardnier; “Como se (des)constrói um país?”, assinado por Juliano Tosi; “Novos Diretores: uma geração em trânsito” assinado por Fernando Veríssimo; “O que há de novo no cinema novo?” de Inácio Araújo; Arthur Autran escreve o artigo “Que história é essa?”; João Luiz Vieira escreve o artigo “O (cinema) brasileiro tem memória?”; Eduardo Valente o artigo “Temos local na aldeia global?”; Alfredo Manevy o texto “Hollywood, TV, publicidade: referência ou interferência?” e Hernani Heffner o artigo “O cinema popular acabou?”.

No seu texto, Ruy Gardnier afirma que ainda que nos anos 90, o jogo estético-político não tenha assumido a mesma força de movimento como nos anos 60. “Os tempos são outros: insistem em nos dizer que a política é questão de economia, que vivemos a era do ‘fim das ideologias’, que não existe mais direita e esquerda. Diversos cineastas, todavia, tentaram expressar cinematograficamente uma síntese daquilo que seria essencialmente o Brasil, o que certamente envolve questões políticas e estéticas.” Entre estes cineastas, Ruy cita Central do Brasil (1998) de Walter Salles, Cronicamente inviável (2000) de Sérgio Bianchi e Santo Forte (1999) de Eduardo Coutinho, apontando como cada um deles busca construir a imagem do país.

Pensando também na questão da imagem e da identidade, Juliano Tosi orienta seu texto a partir de algumas interrogações: “qual foi a postura do cinema brasileiro diante da experiência social periférica e subdesenvolvida? Quais foram as soluções estéticas que os diretores encontraram para se deixar contaminar pelas tensões do país?, para desarrumar o arrumado?, para proclamar de boca cheia seu inconformismo? Numa década de diversas mudanças no mundo, de vários dados novos no imaginário coletivo, mas que fechou suas cortinas reescrevendo os descompassos de um progresso sempre ambíguo, conservador, de uma modernização iminente nesse Brasil, no entanto, de eternos contraste e conflitos – nessa década de 90, em qual papel o cinema se fez empenhar?”. Para responder, ou melhor, dialogar, com tais questões, Juliano cita filmes como Tudo é Brasil (1998), de Rogério Sganzerla, Mandarim (1995) de Júlio Bressane, Crede Mi (1997), de Bia Lessa e Dany Roland, O Sertão das Memórias (1996) de José Araújo, O Vigilante (1992) de Ozualdo Candeias e Estorvo (1999) de Ruy Guerra.

Outros dois textos que, de certa, se completam são os de Fernando Verissimo e de Inácio Araújo. O primeiro escreve sobre os diretores que surgem, caso de Beto Brant e Tata Amaral, por exemplo; Inácio, por sua vez, fala dos veteranos que continuaram filmando, caso de Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Walter Lima Jr e Paulo Cezar Saraceni, autor que destaca tratando mais detidamente do filme O Viajante (1999).

O texto de Arthur Autran, como o próprio título indica, trata de filmes que trataram da questão da história, mas incluindo “propostas de leitura da história fora dos cânones oficiais” e de linguagem mais experimental, casos de Bocage, o Triunfo do Amor (1997), de Djalma Limongi Batista, Alma Corsária (1994), de Carlos Reichenbach e Baile Perfumado (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas.

Já o texto de João Luiz Vieira trata da memória, da “arqueologia investigadora, que tenta resgatar materialmente o que ainda sobrou desse passado visual”, incorporando novos elementos ou novas formas de trabalhar espaços e temas já visitados anteriormente, e os filmes que servem a análise são os que tratam de figuras do passado, além do já citado Baile Perfumado, O Cineasta da Selva (1997) de Aurélio Michilles, Rádio Auriverde (1991) e Yndio do Brasil (1995), ambos de Sylvio Back, Banana is my business (1999) de Helena Solberg, entre outros; os que remexem, para usar um termo do autor, ou se apropriam da herança histórica do cinema brasileiro, caso de Quem matou Pixote (1996) de José Jofilly ou reelaboram questões de um gênero como a chanchada, caso de For All, Trampolim da Vitória (1997) de Luiz Carlos Lacerda; além dos remakes de filmes de sucesso como Matou a Família e Foi ao CinemaNavalha na Carne ou O Cangaceiro.

O texto seguinte, de Eduardo Valente, trabalha com a questão do que é nacional ou internacional em certos filmes que têm uma forte presença de estrangeiros, seja como personagens, temas, cenário, entre os atores ou até mesmos por trás da câmera, assinando a direção. Valente explora filmes como O Judeu (1995), de Tom Job Azulay, o já citado Bocage, o Triunfo do Amor, Terra Estrangeira (1995) de Walter Salles e Daniela Thomas, Coração iluminado (1996) de Hector Babenco, o documentário Carvoeiros (1999) do inglês Nigel Noble, O Monge e a Filha do Carrasco (1995) de Walter Lima Jr, Olé – Um "Movie" Cabra da Peste (2000), de Roberto Santucci, que se passa todo nos EUA, além dos filmes que tinham atores ou atrizes estrangeiros no elenco.

Alfredo Manevy, à época fazendo mestrado e editando a Revista Sinopse da USP, analisou as influências tanto de Hollywood, quanto da publicidade, em filmes como Buena Sorte (1996) de Tania Lamarca, o já citado Os MatadoresO Dia da Caça (1999) de Alberto GraçaBossa Nova (2000) de Bruno BarretoPequeno Dicionário Amoroso (1997) de Sandra Werneck e Ed Mort (1997) de Allan Fresnot.

Já o último texto, “O cinema popular acabou?” de Hernani Heffner, talvez o mais importante do catálogo, discute os caminhos percorridos pelo cinema brasileiro da década de 90 na sua tentativa de ser popular e na sua visão do que seja um cinema popular.

8 A Mostra Cinema Brasileiro anos 2000, 10 questões foi realizada no CCBB/SP de 13 de abril a 1º de maio e de 26 de abril a 8 de maio de 2011 no CCBB/RJ, organizada pela Revista Eletrônica Cinética, com curadoria de Eduardo Valente, Cléber Eduardo e João Luiz Vieira, e produção executiva de Leonardo Mecchi, com apoio do Ministério da Cultura. Toda a programação, bem como o catalogo da Mostra, pode ser acessado ou baixado em pdf no endereço http://www.revistacinetica.com.br/anos2000/ num belo trabalho gráfico, diga-se. Outra novidade da mostra é que, além dos filmes, ela realizou debates, tanto no Rio como em São Paulo, com críticos, realizadores e pesquisadores para discutir as questões levantadas. Os vídeos dos debates e as transcrições também podem ser baixados na integra pelo site.

As 10 questões foram as seguintes, copio-as diretamente do site:

1. Que país é esse? – “Uma característica que acompanha toda a história do cinema nacional é a dos filmes empenhados em traçar a imagem do país em dado momento, do passado ou do presente, em busca de sintomas, revelados por meio de indivíduos representativos ou grupos com sentido de panorama”. Que contou em São Paulo com Cássio Starling Carlos, crítico de cinema e pesquisador de audiovisual, e com Luiz Zanin - crítico de cinema e colunista do jornal O Estado de S. Paulo; e no Rio com Andrea Ormond, escritora, crítica de cinema e pesquisadora, e com José Carlos Avellar, crítico de cinema e programa a sala de cinema do Instituto Moreira Salles. Já os filmes base para a discussão da questão foram: Baixio das Bestas (2006) de Cláudio Assis, O Signo do Caos (2003) de Rogério Sganzerla, Quanto Vale ou É Por Quilo? (2005) de Sérgio Bianchi, Quase Dois Irmãos (2004) de Lucia Murat e Redentor (2004) de Cláudio Torres.

Daniel Schenker, crítico de teatro e cinema e professor de história do teatro e Hernani Heffner, pesquisador, conservador-chefe da cinemateca do MAM, e professor da PUC-Rio e CineTV/FAP-Paraná. Os filmes que serviram de base para a questão foram: 2 Filhos de Francisco (2005) de Breno Silveira, Cidadão Boilesen (2009) De Chaim Litewski, Madame Satã (2002) de Karim Aïnouz, Meu Nome Não é Johnny (2007) de Mauro Lima  e Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei (2008) de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal.

3. Que gêneros são os nossos? “Ao longo desses 10 anos, quais gêneros tipicamente nacionais nasceram e/ou se confirmaram como nossos principais sucessos de bilheteria? Por outro lado, quais tentativas confirmaram a pouca visibilidade de outros modelos clássicos do chamado cinema de gênero?”. Em São Paulo, debateram a questão: Inácio Araújo, crítico de cinema do jornal Folha de São Paulo, e Mauricio R. Gonçalves, pesquisador e professor da Universidade de Sorocaba e do Centro Universitário SENAC; já no Rio, Mariana Baltar, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Rafael de Luna Freire, pesquisador em história do cinema e preservação audiovisual. Os filmes base foram: Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito (2008) de Glauber Filho e Joe Pimentel, Carandiru (2003) de Hector Babenco, Encarnação do Demônio (2008) de José Mojica Marins, Falsa Loura (2007) de Carlos Reichenbach e Se Eu Fosse Você 2 (2009) de Daniel Filho.

4. Quais imagens do Brasil lá fora? “Ainda bastante frágil no contexto interno da cultura brasileira, o cinema nacional muitas vezes vai buscar lá fora elementos legitimadores, principalmente por meio dos maiores festivais de cinema do mundo. Quais imagens do cinema brasileiro foram mais circuladas e definidoras de uma noção estrangeira do cinema produzido aqui?”. Em são Paulo foram convidados para debater Luiz Carlos Merten, crítico de cinema do jornal O Estado de São Paulo e Marcus Mello, crítico de cinema, editor da revista Teorema e programador da Sala P. F. Gastal em Porto Alegre; no Rio, Tunico Amancio, pesquisador e professor do curso de cinema da Universidade Federal Fluminense e Pedro Butcher, jornalista e crítico de cinema, editor do website Filme B, especializado em mercado de cinema no Brasil. Os filmes utilizados para orientar o debate foram:  A Alegria (2010) de Felipe Bragança e Marina Meliande, Cidade de Deus (2002) de Fernando Meirelles, Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) de Marcelo Gomes, Estômago (2007) de Marcos Jorge e O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006) de Cao Hamburger.

5. Ação entre amigos: opção, afirmação ou necessidade? “Através da explosão e barateamento permitidos principalmente pelas várias revoluções digitais que o cinema passou na última década se fortalece a tendência de destaque de uma produção de características bastante ‘caseiras’, inclusive na maneira como os membros da equipe se relacionam entre si (um cinema da afetividade, de amigos)”. Debateram em São Paulo, José Geraldo Couto, jornalista, tradutor e crítico de cinema e Rafael Ciccarini, professor, crítico de cinema e editor da revista eletrônica Filmes Polvo; no Rio, Fábio Andrade, editor da revista eletrônica cinética, músico e roteirista e Marcelo Ikeda, professor do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará (UFC) e crítico do blog Cinecasulofilia. Os filme base foram: A Falta que me Faz (2009) de Marília Rocha,  Amigos de Risco (2007) de Daniel Bandeira, Apenas o Fim (2008) de Matheus Souza, Estrada para Ythaca (2010) de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti e Meu Nome é Dindi (2007) de Bruno Safadi. 

6. Subjetividade modo ou moda? “O eu nunca esteve tão inflado no cinema brasileiro, em geral flagrado e construído em uma zona de conflitos, gerados por uma tensão com o mundo próximo. Essas manifestações subjetivas estão presentes na última década tanto em ficções como documentários”. Debateram em São Paulo, Cesar Zamberlan, pesquisador das relações entre o cinema e a literatura, e Pedro Maciel Guimarães, doutor em cinema pela Sorbonne Nouvelle e pós-doutorando da ECA-USP; e no Rio, debateram Consuelo Lins, professora da Escola de Comunicação da UFRJ, pesquisadora do CNPq e documentarista, e Paula Sibília, professora de Estudos de Mídia da UFF, ensaísta sobre questões culturais contemporâneas e pesquisadora do CNPq e da FAPERJ. Os filmes base para o debate foram: Dias de Nietzsche em Turim (2001) de Julio Bressane, Eu me Lembro (2005) de Edgard Navarro,  Nome Próprio (2007) de Murilo Salles, Pan-Cinema Permanente (2007) de Carlos Nader e Tropa de Elite (2007) de José Padilha.

7. O outro: temer, tolerar ou conhecer? “Reflexo talvez inevitável de um país com tantos contrastes internos, a produção brasileira do período nos trouxe uma enorme quantidade de filmes que expõem a relação entre opostos, seja pelas tentativas de aproximação, seja pelas tensões da convivência”. Debateram em São Paulo, Arthur Autran, pesquisador de cinema e professor na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Henri Gervaiseau, professor do departamento de cinema, televisão e rádio da ECA-USP, ensaísta e diretor de documentários premiados no Brasil e no exterior; no Rio, participaram Ivana Bentes, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação da ECO-UFRJ e Luis Alberto Rocha Melo, cineasta, pesquisador e professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Juiz de Fora. Os filmes base para o debate foram:  5x Favela – Agora por Nós Mesmos (2010) de Cacau Amaral, Cadu Barcelos, Luciana Bezerra, Manaira Carneiro, Rodrigo Felha, Wagner Novais e Luciano Vidigal, À Margem da Imagem (2003) de Evaldo Mocarzel,  Corumbiara (2009) de Vincent Carelli, O Invasor (2001) de Beto Brant e Santiago (2007) de João Moreira Salles.

8. Deslocamentos: para onde e para quê? “A década se voltou com frequência para personagens em trânsito ou em conflito com seus lugares de existência, às vezes por conta de uma inadequação aos padrões do entorno, às vezes por uma insatisfação aparentemente intrínseca aos mesmos”. Debateram em São Paulo, Luiz Carlos Oliveira Jr., crítico de cinema e pesquisador, e Samuel Paiva, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som (PPGIS) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); no Rio, Andrea França, pesquisadora e professora de cinema da PUC-Rio, e Katia Augusta Maciel, PhD em cinema pela University of Southhampton e professora da ECO-UFRJ. Os filmes base para a discussão foram: A Concepção (2005) de José Eduardo Belmonte, Brasília 18% (2006) de Nelson Pereira dos Santos, Jean Charles (2009) de Henrique Goldman, Pachamama (200X) de Eryk Rocha  e Serras da Desordem (2006) de Andrea Tonacci.

9. Obras em processo ou processo como obras. “Dispositivo e processo foram duas palavras constantemente trazidas à tona nos debates da década, seja no documentário seja na ficção – muitas vezes gerando inclusive uma produção que desafia de maneira evidente as fronteiras entre estas categorias. Em várias dessas obras a exposição do próprio processo de realização toma a frente na estrutura dos filmes”. Em São Paulo, debateram Cristian Borges, cineasta, curador de mostras de cinema e professor da ECA-USP, e Marcius Freire, professor livre-docente do departamento de cinema da Unicamp; já no Rio de Janeiro, debateram Cezar Migliorin, pesquisador e professor de cinema e audiovisual da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Cláudia Mesquita, professora da UFMG e pesquisadora de cinema. Os filmes base para o debate desta questão foram: 33 (2003) de Kiko Goifman, Jogo de Cena (2007) de Eduardo Coutinho, Juízo (2007) de Maria Augusta Ramos, O Prisioneiro da Grade de Ferro (2004) de Paulo Sacramento e Pacific (2009) de Marcelo Pedroso.

10. A última questão, O que pulsa além dos longas? “Se a história do cinema de um país nunca é contada apenas pelos longas que ele produz, essa realidade se tornou hiperpresente nos anos 2000, uma vez que a produção em outros formatos se multiplicou exponencialmente. Curtas, médias, séries de TV, telefilmes foram espaços buscados por alguns autores para começar ou se manter filmando”. Debateram em São Paulo, Esther Hamburguer, ensaísta, crítica e professora da Universidade de São Paulo (USP) e Leandro Saraiva, crítico de cinema, roteirista e diretor de televisão; e no Rio, André Brasil, ensaísta e pesquisador de comunicação e cinema, doutor pela UFRJ e professor do Departamento de Comunicação da UFMG e Maurício Hirata, fotógrafo e cineasta. Os filmes base foram: A Pedra do Reino – parte 1 de Luiz Fernando Carvalho (2007, 130 min), A Pedra do Reino – parte 2 de Luiz Fernando Carvalho (2007, 100 min), Acidente de Cao Guimarães e Pablo Lobato (2006, 52 min), As Vilas Volantes: O Verbo Contra o Vento de Alexandre Veras (2006, 52 min), Avenida Brasília Formosa de Gabriel Mascaro (2008, 52 min), Convite Para Jantar Com o Camarada Stalin de Ricardo Alves Jr. (2007, 9 min), Estafeta – Luiz Paulino dos Santos de André Sampaio (2008, 53 min), Fantasmas de André Novais Oliveira (2010, 11 min), Helena Zero de Joel Pizzini (2005, 30 min), Imprescindíveis de Carlosmagno Rodrigues (2003, 6 min), Man.Road.River de Marcellvs L (2004, 10 min), Morro do Céu de Gustavo Spolidoro (2008, 52 min), Muro de Tião (2008, 18 min), Nevasca Tropical de Bruno Vianna (2003, 12 min), Noite de Sexta, Manhã de Sábado de Kléber Mendonça Filho (2006, 15 min), Ocidente de Leonardo Sette (2008, 6 min), Palíndromo de Philippe Barcinski (2001, 11 min), Retrato Brasileiro: Maria Gladys de Paula Gaitán (2008, 28 min), Um Ramo de Marco Dutra e Juliana Rojas (2007, 15 min) e Vida de Paula Gaitán (2008, 69 min).

9 – Uma outra publicação que trata do anos 2000 e foi lançada este ano é Cinema Brasileiro no Século XXI de Franthiesco Ballerini, da editora Summus. Outras publicações que merecem ser citadas são aquelas que tratam dos mais importantes filmes ou diretores do período. Difícil destacar todas, mas duas merecem citação: o livro Serras da Desordem (2006) que trata do filme Serras da Desordem de Andrea Tonacci, organizado por Daniel Caetano e publicado pela editora Azougue em 2008 e o livro de Consuelo Lins que trata da obra de Eduardo Coutinho chamado O Documentário de Eduardo Coutinho, publicado pela Jorge Zahar em 2004.

10 – Para fechar este longo, e ainda assim incompleto, texto, vale ainda destacar os catálogos de festivais de algumas mostras e festivais que, além de uma eventual premiação, busquem também refletir sobre os filmes que exibem, caso, por exemplo, da Mostra de Tiradentes e de festivais independentes como a Mostra do Filme Livre, Semana dos Realizadores, Cine Esquema Novo, entre outros.

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