Ano VII

Para Roma Com Amor

domingo jul 1, 2012

Para Roma Com Amor (To Rome With Love, 2012), de Woody Allen

Para Roma com Amor é o reflexo invertido de Meia-noite em Paris. Porém, menos inspirado. Muito menos. Talvez o mais fraco filme de Woody Allen desde que começou a filmar na Europa com Match Point.

Seu cinema continua falando do diapasão entre o que desejamos ter, mas o que temos de fato; o que queremos ser contraposto ao que somos; o que sonhamos comparado com aonde podemos chegar. Entre o encantamento da fantasia e o concreto da vida real.

A solução, desta vez, é outra. O protagonista solitário de Meia-Noite em Paris “inventou” uma cidade paralela onde conseguisse exercer a fantasia de seu desejo – “ir” ao passado e dialogar com os verdadeiros criadores, Dalí, Buñuel, Fitzgerald. Depois de materializar seu desejo, Gil, o protagonista, descobre o óbvio: toda fantasia da realidade jamais irá corresponder à realidade. Com isso, ele, o personagem, e nós, os espectadores, aprendemos uma lição no cinema.

A lição em Para Roma com Amor é a mesma: que a projeção jamais será igual ao que existe de fato, ao verdadeiro. Mas se no seu filme anterior havia uma escapatória (a fantasia de uma outra cidade e a invenção de um tempo passado interferindo no presente), já em Para Roma com Amor a Cidade Eterna não oferece encantamento como elemento cênico. A paisagem italiana no filme não passa de cartão-postal, fornecedora de desculpas no roteiro para justificar certos personagens.

Para Roma com Amor tem problemas de realização causados em grande parte por um roteiro fraco em desenrolar as diversas histórias e, principalmente, dar um fim satisfatório a todas elas.

Um desfile de lugares-comuns, indícios da preguiça na realização. Qual é o objeto de estudo do jovem americano que está na Itália? Arquitetura, claro. Afinal, não dizem que a Itália é um museu a céu aberto? Desculpa perfeita para filmar as ruínas do Coliseu nos planos sacados de cartões-postais (e a grande cena da conquista amorosa também).

Continuando: e qual é a profissão da personagem com as maiores variações de humor, volátil e apaixonante? Atriz! E o negócio do pai que soterrou num passado seu talento como cantor? Dono de agência funerária! (ou “aquele que enterra os mortos”, nas palavras de um personagem). E a única personagem sensível a um invisível caos familiar? Psiquiatra!

O clichê não é surpresa num filme que executa, já na sequência de abertura, Volare. Porém, esse empilhamento de obviedades vai criando um divórcio gradual com o filme.

A distância só aumenta quando ele busca um desfecho para os personagens. A pressa é monstruosa para encerrar suas histórias, criando problemas básicos como os acontecimentos de um determinado personagem avançar alguns dias, enquanto o de outro, supostamente simultâneo, permanecer estático no tempo.

De segmento em segmento, Para Roma com Amor se parece mais uma colcha de retalhos, acumulo de comentários, situações e tipos. Celebridades e anônimos, pseudo intelectuais e seus similares, frustrados e interioranos. É um zoológico humano ambientado numa cidade-grife.

Existem dois ou três momentos inspirados – Woody interpretando o bom e velho papel do homem deslocado e neurótico, o cantor de chuveiro de ópera ou o desespero de Roberto Benigni ao descobrir que não é mais famoso. Mas no geral, uma tremenda frustração.

Heitor Augusto

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