Ano VII

Coppola – Anos 2000

sábado mar 3, 2012

Velha Juventude
Youth without Youth, 2007

Coppola terminou os anos 1990 ganhando uma batalha judicial contra a Warner, a respeito de uma versão de Pinóquio que o cineasta pretendia fazer e que supostamente, o estúdio teria lhe sabotado. A decepção de Coppola em relação a este e outros projetos, fez com que se mantivesse afastado da cadeira de diretor até 2007, quando lançou o estranho (e ainda hoje pouco visto pelo grande público) Velha Juventude, baseado em romance do romeno Mircea Eliade.

Tim Roth interpreta Dominic Matei, um estudioso em lingüística que aos 70 anos de idade, percebe que não conseguirá completar o trabalho de sua vida, rastrear a verdadeira origem da linguagem humana. No final dos anos 40, ao viajar para Bucareste decidido a se matar, é atingido por um raio e levado ao hospital com poucas chances de sobrevivência. Para surpresa do médico encarregado (Bruno Ganz), o convalescente Dominic inicia um processo de cura e rejuvenescimento até ficar com a aparência de três décadas mais jovem. Mais do que isso, suas capacidades mentais estão ampliadas além da possibilidade humana e agora, também pode se comunicar um duplo seu, que existe “além do espaço e do tempo”. A presença e os poderes de Dominic não escapam do conhecimento dos nazistas, dispostos a usá-lo em experiências científicas. Se a primeira metade de Velha Juventude dialoga com os velhos filmes de espionagem acrescidos do realismo fantástico dos seriados da época, na segunda parte assume o lado romântico e também filosófico, com a entrada em cena de uma personagem idêntica a um antigo amor do passado de Dominic e que poderá ajudá-lo a concluir seu trabalho – mas não sem consequências nocivas para a pobre mulher.

Coppola desenvolve um espetáculo suntuoso, utilizando-se de recursos ora sutis, ora carregados – cores monocromáticas, planos invertidos – que exige a completa imersão do espectador na religiosidade oriental e a aceitação de conceitos como reencarnação e karma. Velha Juventude se conclui como uma obra desigual, talvez com o próprio Coppola tendo pleno conhecimento disso, pois como Dominic também aprendeu, uma vida inteira pode não ser suficiente para preencher todas as ambições de certos indivíduos.

Leandro Cesar Caraça

* * *

Tetro
 Idem, 2010

É um lugar comum dizer que a família sempre esteve no centro das atenções de qualquer filme de Coppola. Desde Agora Você É um Homem (1966) é ela que faz quase todos seus filmes caminharem. Só que com Tetro Coppola parece ter exorcizado seus fantasmas familiares, mostrando uma figura paterna tão pesada quanto em O Poderoso Chefão. Nunca essa afirmação clichê fez tanto sentido.

Mas Tetro não é só isso. Existe ali também um filme sobre o fazer artístico, entre compartilhar a criação ou mantê-la na gaveta. Ir em direção aos holofotes ou negar um passado. Nesses termos, o filme dialoga com as questões de Cada Um Vive Como Quer (1970).

De volta ao tema da família, que é o eixo da carreira de Coppola, Tetro é um filme triste que delineia a aridez do tempo presente (em preto e branco) e o do passado (flashback coloridos que contrastam com a fotografia austera). Um filme que conversa com outros longas de Coppola, seja a relação dos irmãos (O Selvagem da Motocicleta) ou com o pai (trilogia Chefão). Benny, o personagem de Vincent Gallo, pode ser lido como uma continuação mais radical de Natalie em Caminhos Mal Traçados , e a música volta com a força de O Fundo do Coração.

Para onde irá caminhar a carreira de Coppola depois de um filme tão duro como esse? Se aparentemente já disse tudo o que podia sobre a família, o que ainda resta dele como autor?

Heitor Augusto

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