Ano VII

Chronic

quarta-feira out 28, 2015

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Chronic (2015), de Michel Franco

Ano após ano, alguns filmes que chegam aos festivais conseguem atingir em cheio uma parcela da cinefilia e desagradar extremamente outra, já que sofrimentos humanos podem causar compaixão ou não, dependendo muito das escolhas estéticas dos realizadores.

Coisas tristes e graves, pelas quais todos ou quase todos teremos que passar na vida, na cabeça de alguns desses cineastas viram um prato cheio para expiação do mal-estar mundial e estes exemplares parecem estar agradando muito os festivais que os premiam.

Aqui, no caso, o que temos – e já com a chancela de prêmio de roteiro em Cannes este ano – , é a rotina de trabalho de David, um enfermeiro/cuidador extremamente profissional e dedicado, que parece esconder algum segredo que vai ser mais ou menos revelado ao longo do filme, não sem antes tentar nos levar por falsos caminhos, utilizando até as redes sociais, de maneira boba, pra isso. David é um cara solitário, obcecado em cuidar dos outros e que carrega nas costas o peso de acontecimentos passados, misteriosos.

Se o diretor economiza em informações sobre quem é realmente esse homem, o que há por trás dos aparentes trabalho-academia-internet (e aí algumas questões morais estarão envolvidas, fazendo com que o filme pareça realmente querer discutir assuntos bem sérios e talvez por isso o roteiro tenha sido premiado), o mesmo não acontece com seus pacientes, entre eles, uma portadora de HIV, um senhor em recuperação de um acidente vascular cerebral, uma senhora em tratamento de câncer. Estes terão suas feridas gélida e detalhadamente mostradas em longos planos fixos, remetendo ao atual estilo grego de filmar mazelas humanas.

Interpretado de maneira eficiente por Tim Roth, o personagem caminha rumo a um final moralizante numa cena que demonstra, mais do que qualquer indício de intervenção divina ou não, a falta de habilidade do diretor, Michel Franco, para terminar a história (semelhante ao que acontece num outro longa, também premiado e exibido na Mostra, Desde Allah, dirigido por Lorenzo Vigas, do qual Franco é produtor).

Márcia Schmidt

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