Ano VII

FESTIVAL DO RIO – DIA 3

segunda-feira out 5, 2015

DIÁRIO DO FESTIVAL DO RIO

DIA 3 – DOMINGO – 04/10, por Gilberto Silva Jr.
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EM JACKSON HEIGHTS (In Jackson Heights), de Frederick Wiseman (EUA, 2015)

Senhor absoluto de seu estilo documental, Wiseman volta suas lentes para um bairro peculiar de Nova York, Jackson Heights, na região do Queens, paraíso da multiculturalidade. Wiseman penetra, como de costume, na intimidade de seu objeto, percorrendo ruas, explorando lojas, trabalhando sempre com a calma e o tempo necessários para que conheçamos hábitos, rituais e as pressões exercidas sobre a região e seus antigos habitantes. As filmagens durante o período da Copa do Mundo de 2014 fornecem um atrativo enriquecedor, em especial na exploração dos hábitos dos colombianos que predominam na região. Wiseman reforça o senso de comunidade através do retrato de uma sucessão (em alguns momentos excessiva) de reuniões ou grupos de discussão, mas é quando se prende em apresentar os pequenos detalhes e sutilezas de vários aspectos do bairro que Em Jackson Heights alcança sua grandeza maior. Mais uma pedra obrigatória nesse infinito monumento que é a obra de Frederick Wiseman.

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GRANDMA, de Paul Weitz (EUA, 2015)

A talentosa Lily Tomlin é a razão de ser dessa comédia sentimental, na qual interpreta uma voluntariosa e desbocada intelectual lésbica. Elle recebe a neta adolescente que precisa de dinheiro para fazer um aborto. O roteiro, esquemático por demais, segue sucessivos encontros enquanto a dupla tenta conseguir o dinheiro para a empreitada, numa série de reconciliações e acertos de contas pessoais e familiares. A direção de Weitz, convencional e pouco imaginativa, não colabora para um resultado acima da medíocre simplicidade que impregna um suposto cinema “independente” americano. O carisma de Tomlin garante um mínimo de interesse, mas a verdade é que essa grande atriz merecia coisa bem melhor para um filme que lhe concede uma rara chance de estrelato.

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600 MILLAS de Gabriel Ripstein (México / EUA, 2015)

Filho do grande Arturo Ripstein, Gabriel parece ter herdado do pai o gosto pelos planos sequência. Em sua estreia na direção, opta por conduzir em uma chave mais sutil e contida uma história que envolve os cartéis do narcotráfico, num estilo bem distante do tom exagerado e apelativo do qual estão carregadas as produções mexicanas que têm alcançado algum impacto no mercado internacional (Heli, de Amat Escalante, é um exemplo evidente dessa tendência). Arnulfo é um jovem mexicano que contrabandeia para seu tio criminoso armas compradas em território americano. Numa dessas viagens, ao ser abordado pelo agente interpretado por Tim Roth, o faz de refém e a dupla percorre, numa caminhonete, a distância descrita no título. Os personagens embarcam numa jornada de conhecimento mútuo, que acaba por se configurar num conto de aprendizado e amadurecimento. Delicadas reviravoltas no final desse filme curto e objetivo ressaltam com ironia o triunfo da frieza sobre a impulsividade. Mesmo não alcançando pilares cinematográficos mais elevados, 600 Millas sugere Gabriel Ripstein como um potencial a ser acompanhado com atenção.

 

 

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