Ano VII

Guardiões da Galáxia

quinta-feira ago 7, 2014

Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014), de James Gunn

Guardiões da Galáxia apresenta-se como uma espécie de sátira às aparentemente inesgotáveis produções baseadas nos quadrinhos da Marvel. Sua manifesta irreverência autorreferencial está espalhada por toda sua duração e as brincadeiras,  com algumas (teoricamente) quebras de expectativa  por parte de quem a assiste, (teoricamente) o fazem um produto mais interessante que seus semelhantes. Isto, aos menos aos olhos daqueles que estão cansados com estas mesmas histórias e explosões, apenas com leves mudanças nas armaduras e uniformes, mas quase nenhuma nos gigantescos cenários em CGI; todos, é evidente, a serem explodidos em seguidos clímax.

O resultado dessa investida jamais será melhor mas, certamente, mais simpático do que aqueles de seus irmãos/concorrentes e, talvez, isso se dê (desconheço completamente os gibis que lhe deram origem) pelo fato de não termos aqui personagens icônicos desse universo, fazendo com que o estúdio pudesse manter-se fiel aos personagens ou, se julgasse necessário, alterá-los ao seu bel- prazer, sem temer a fúria de fãs histéricos.

De uma forma ou de outra, que o espectador não se engane: o próprio personagem principal, Peter Quill (Chris Pratt), é mais um manjado órfão e a história em si – que confesso julgar tão desimportante quanto desnecessária de ser relembrada aqui (já não me lembro dela, de fato) – é, no limite, sobre um grupo de desajustados, personagens à deriva que devem lidar com suas rejeições e traumas. Em suma, um bando de solitários que unem-se, apesar de suas personalidades antagonistas e interesses opostos, para a realização de uma tarefa maior (salvar o universo, se bem entendi), acabando por formar uma unidade ou, em outras palavras e sendo essa uma superprodução hollywoodiana, uma família.

Entre tais membros, aqueles que reservam os melhores momentos cômicos são, justamente, os dois digitalizados: Groot (Vin Diesel), uma árvore com uma força imensa, inversamente proporcional à sua capacidade cognitiva e Rocket (Bradley Cooper), um bicho que parece algo saído entre o jogo Star Fox e as raposas de Wes Anderson. Naquela que talvez seja a melhor entre as tantas gags, Rocket expõe uma elaborada estratégia para o grupo libertar-se de uma penitenciária. Quando ele menciona a parte mais complexa do esquema (desligar um aparelho que fica a seis metros do solo, bem ao centro do presídio) vemos, discretamente e no mesmo plano, a árvore ambulante calmamente realizando a sugestão, o que, evidentemente, acaba por causar uma imensa confusão.

E é justamente nesses momentos de ação que o filme perde qualquer traço de autenticidade. A fórmula, nestes instantes, segue a mesma das outras produções semelhantes, ou seja: explosão em cima de explosão, amarradas por duas ou três narrativas paralelas, às quais temos dificuldade em acompanhar e, ainda mais, de nos preocupar com os envolvidos.

Ainda assim, Guardiões da Galáxia consegue imprimir um tom remanescente de alguns filmes “de aventura” dos anos 70 e 80, e tal intuito é explícito na utilização de uma trilha sonora pop, que nos deixa com a impressão de que este filme pode ser divertido –  mesmo que visto em uma televisão de tubo com 28 polegadas, numa versão pessimamente dublada e com intervalos comerciais a cada vinte e tantos minutos (e sim: considero este um elogio, o único possível a este simpático filme de super-heróis que zomba, mas segue à risca a cartilha desses.)  

Bruno Cursini

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