Ano VII

O Lobo Atrás da Porta

sexta-feira jun 6, 2014

O Lobo Atrás da Porta (2013), de Fernando Coimbra

O Lobo Atrás da Porta apresenta a relação puramente carnal entre um homem casado, Bernardo (Milhem Cortaz no papel de sempre) e uma moça de periferia, Rosa (Leandra Leal, com uma atuação que a destaca do filme). A esposa de Bernardo, Silvia (Fabíula Nascimento, sempre ótima) é a maior vítima. Uma inocente que se aproxima do lobo (ou loba) e permite sua vingança.

O melhor personagem, ou pelo menos aquele que tem as melhores falas, é o delegado interpretado por Juliano Cazarré. Uma ótima caricatura da polícia brasileira. Paradoxalmente, o núcleo dramático ao qual pertence não existiria (ou não teria razão de existir) caso o filme fosse narrado de maneira linear. E penso que, se assim fosse, os acontecimentos teriam mais força por causa da progressiva tensão que iríamos sentir. Ou seja, a narrativa por flashbacks enfraquece o drama, mas permite o brilho de Cazarré. É paradoxal.

Do jeito que o filme foi montado, com uma montagem que reserva os picos de tensão para o começo e o fim, cria-se uma enorme barriga, um quebra-cabeças meio sem graça no miolo, que tem a obrigação de nos contar o que aconteceu à pequena menina desaparecida no início do filme. Mais uma vez (e não é raro isso acontecer) o enorme desejo de ser moderno por meio de uma alinearidade questionável, que trunca a narrativa desnecessariamente, faz com que o filme seja frouxo, desritmado e nada moderno, pois esses truques narrativos já estão mais do que sucateados.

É uma pena, porque com isso pune-se mais uma vez o elenco (que, convenhamos, tem sido a única verdadeira força de nosso cinema) e uma atriz – Leandra Leal – que, como a sequestradora Rosa, após alguns filmes em que se repete irritantemente (O Rio Nos Pertence, O Uivo da Gaita, dois trabalhos que parecem clamar por uma interpretação mais aguerrida, com menos da meiguice característica da atriz), atinge talvez o melhor momento de sua carreira. Ao menos em interpretação – seu melhor filme ainda é A Ostra e o Vento, de Walter Lima Jr.

Sérgio Alpendre

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