Ano VII

Capitão América 2

terça-feira abr 22, 2014

Capitão América 2 – O Soldado Invernal (Captain America 2: The Winter Soldier, 2014), de Anthony Russo e Joe Russo

O filme contemporâneo de herói tem se esforçado para dar um significado literal ao termo blockbuster: não se trata apenas de conseguir grandes bilheterias, mas de exibir cenas de ação baseadas na destruição maciça do quarteirão. 

Em Capitão América 2 – O Soldado Invernal, quem mais sofre com a violência não são os vários heróis do filme, mas os carros e os prédios. O “cenário”, enfim (a superficial leveza que o CGI dá ao concreto lembra as construções de isopor dos super sentai produzidos pela Toei, como Flashman e Changeman, por exemplo). Apesar dos golpes que recebem, das chuvas de balas das quais precisam se proteger, os corpos dos mocinhos e mocinhas permanecem intactos. Essa é a anatomia do filme censura livre: corpos que não sangram. Sem o sangue, sem a deformação facial (a violência, como nos faz lembrar os bons filmes de Stallone, reconfigura), signos maiores da dor, resta, portanto, transferir ao espaço genérico o resultado do impacto.

É evidente que se deve levar em conta o fato de que o herói que dá título ao longa-metragem usa um escudo. Daí sua invulnerabilidade. Os outros, porém, mesmo desprovidos do prefixo “super”, são inatingíveis. Também é preciso lembrar que o modo destruição de quarteirão é uma maneira eficiente de garantir a grandiosidade hiperbólica almejada por quase todos os filmes de herói recentes da Marvel, que tem Os Vingadores como modelo a ser seguido.  Ou seja, não se trata apenas de transferências de impacto.

A grandiosidade em CGI está lá, é claro. As cenas de ação, filmadas com o olhar genérico do travelling-de-helicóptero e da câmera que capta não a coreografia dos golpes em uma cena de luta, e sim breves espasmos, abundam.  O problema é que, depois da quarta explosão massiva, o olho cansa – e o ouvido, mais ainda. O confronto final entre Steve Rogers e Bucky Barnes, que supostamente coloca o Capitão América diante do fantasma do amigo, fica soterrado por pedaços de isopor voando para lá e para cá. Além disso, como sentir a dor que, outra vez, supostamente o embate deveria despertar, se os socos trocados pelos amigos não doem?

Em meio a tantas imagens genéricas e insossas, ao menos uma, bastante impactante, permanece na memória: a da nave que atinge o prédio imponente da SHIELD. Nave essa que teria sido construída para evitar que outro 11 de Setembro acontecesse e outros prédios fossem derrubados. É a América, sempre se mostrando fascinada por si mesma, como na cena em que Rogers visita o museu dedicado ao Capitão.

Wellington Sari

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Texto de Leandro Cesar Caraça

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