Ano VII

Ai Weiwei – O caso falso

terça-feira abr 8, 2014

Ai Weiwei – O caso falso (Ai Weiwei – The fake case, 2013) de Andreas Johnsen

Em 2011 o artista plástico chinês Ai Weiwei foi preso, pelo governo de seu país, sob uma suposta acusação de evasão fiscal. Weiwei, crítico do autoritário regime chinês, se viu obrigado a viver confinado em casa, sem poder dar entrevistas para a imprensa. Durante sua reclusão, contudo, manteve uma atividade artística de cunho claramente oposicionista ao regime, como na “instalação” na qual transmitiu sua vida 24 horas por dia através da internet ou na recriação de algumas cenas que viveu na prisão.

Ao tomar tal momento – o de cerceamento da liberdade de um artista – como objeto de seu olhar, o filme de Andreas Johnsen recai em um impasse: absolutiza as representações e relações encarnados por seus protagonistas (Weiwei e o governo chinês). Ressalta-se de forma quase exegética a reivindicação de liberdade imposta pelo gesto artístico, busca-se um certo peso dramático com a presença de determinadas situações (a mãe lamentando a história que se repete de pai para filho, a recém paternidade vivenciada por Weiwei).

A figura do protagonista é muito pouco nuançada na representação escolhida por Johnsen, e muita vezes a tradução do vazio vivenciado por Ai Weiwei se dá através de formas quase melodramáticas. Essa falta de fricção – substituída por uma exegese quase cega – ao gesto artístico de Weiwei acaba por muitas vezes esvazia-lo em sua representação. Alia-se a essa fragilidade as constantes intromissões de letreiros que tentam explicar a situação que está sendo mostrada: índices da insuficiência de peso dramático no material que acompanhamos.

Em determinado momento, já ao final, Weiwei dá um depoimento à uma jornalista, no qual ele diz sentir a sua existência ameaçada. É um dos raros momentos no qual se traduz uma verdadeira crise existencial de seu protagonista, sem qualquer esquema de representação, apenas com um depoimento bruto, que surge numa brecha à situação que Johsen resolveu focalizar. Outra intromissão pode ser observada na cena em que o artista sai a rua, bradando contra os policiais – rompantes em um filme que tenta representar o vazio através de esquemas que se mostram incapazes.

Em oposição a esses rompantes temos a imagem final: Weiwei adentrando seu chuveiro e uma música pop subindo ao fundo. Tenta-se cumprir uma bem humorada sugestão que o artista havia dado anteriormente, no intuito de burlar a censura sob a qual se encontrava. Todavia, a concretização da cena se dá novamente na exegese de uma suposta beleza quase etérea contida num gesto artístico quase idealista: saem um possível potencial audaz contido na sugestão inicial de Weiwei para um esvaziamento pastichizado sustentado pelo filme. 

Guilherme Savioli

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