Ano VII

12 Anos de Escravidão

quarta-feira fev 12, 2014

12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013), de Steve McQueen

Com 12 Anos de Escravidão, Steve McQueen abranda seus tiques autoristas para entrar no primeiro time do cinema hollywoodiano de prestígio. O roteiro, como não poderia deixar de ser, é baseado em fatos reais e trata de um negro livre, no caso, um violinista culto em meados do século 19, que vivia em Nova Iorque com sua família até sofrer um sequestro na capital dos Estados Unidos e ser vendido como escravo. Por mais de uma década (e mais de 2 horas de projeção), é humilhado em diversas plantações no estado da Louisiana. Esta é toda a dimensão do filme, ausente de sobressaltos ou mudanças de andamento. 

Os fatos – terríveis – são exibidos com precisão cirúrgica e suspense sádico. Se acompanhamos uma mulher ser açoitada quase até a morte, é apenas quando pensamos que o cineasta irá nos poupar da horrível imagem de suas costas que esta chegará, triunfante, como um indicador em riste aos nossos rostos, ameaçando nossa consciência: será você capaz de não se compadecer com isso? O cruel, assim, legitima-se pelos caracteres didático e, sobretudo, de culpa – a sua, a minha, da história, do presente.

Como McQueen não problematiza nada e ninguém, uma questão que vem à mente é a seguinte: o quanto vale o famigerado “filmar bem”? À maneira de seus dois longas-metragens precedentes (Fome e Shame), 12 Anos de Escravidão é o trabalho de alguém evidentemente capaz de criar uma decupagem vistosa, compondo planos de uma plasticidade inequívoca. Artista plástico de formação, o cineasta inglês (sobre)carrega cada um de seus frames com um peso que suas narrativas tipológicas jamais conseguem sustentar. Assim, a nada servem seus atalhos típicos do cinema de qualidade: sua fotografia linda; seus figurinos fidedignos; seus planos-sequência que supostamente clamam por reflexões quando, na verdade, estão ali tão-somente para o esmagamento do espectador diante de tamanha obra de arte.  

Bruno Cursini

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