Ano VII

O Menino e o Mundo

domingo jan 19, 2014

O Menino e o Mundo (2013), de Alê Abreu

A discussão já é antiga. Animação é um gênero cinematográfico ou uma arte por si só, com linguagem e estilo particulares? Há argumentos bons dos dois lados, e até quem considere que tal discussão é inútil.

De todo modo, uma série de artistas elevaram a animação ao status de grande arte, começando por Walt Disney, Tex Avery, Chuck Jones e Alexander Ptushko e chegando até o mais elogiado dos animadores dos últimos anos, o japonês Hayao Miyazaki.

Com o belo O Menino e o Mundo, Alê Abreu sobe mais um degrau no longo caminho a ser percorrido para entrar nesse rol de gigantes. Seu filme narra a história de um menino que parte em busca do pai e descobre ao mesmo tempo o mundo e a força da imaginação.

O traço é simples, seguindo a compreensão infantil das coisas e utilizando variadas técnicas (giz de cera, aquarela, lápis de cor, colagens). A narrativa é poética e sensível, sem ser sentimental, numa linha semelhante a de outro fera da animação, o holandês Michael Dudok de Wit (cuja obra-prima Father and Daughter, de 2001, pode ser vista no YouTube).

Em alguns momentos, a tela se enche de cores, como numa aquarela escolar inconscientemente fauvista. Obviamente, a escolha dessas cores e suas combinações não são as de uma criança. A não ser que fossem de um pequeno Mozart das artes plásticas.

Em sua busca, o menino se depara com procissões de homens com perna de pau, carroceiros, animais estranhos, paisagens de sonho e até um pequeno carnaval.

Os poucos diálogos são ditos em reverso, como numa popular brincadeira de criança, o que ajuda a colocar o filme dentro de uma bolha peculiar. Essa é sua maior força.

Como um único senão, podemos lamentar o excesso de trilha sonora (mesmo levando em conta que um dos músicos é Naná de Vasconcelos), sobretudo porque ela é forte, com melodias facilmente assobiáveis, criando um efeito de saturação pela insistência.

Trata-se de um pequeno deslize entre uma série impressionante de acertos, que fazem deste filme um dos melhores da recente safra do cinema brasileiro.

Sérgio Alpendre

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