Ano VII

Ajuste de Contas

domingo jan 19, 2014

Ajuste de Contas (Grudge Match, 2013), de Peter Segal

Desde a década de 1980, quando dois de seus personagens atingiram grande sucesso distribuindo golpes e acumulando cadáveres em cena – Rocky Balboa e John Rambo – Sylvester Stallone procurou ampliar seus limites. O astro soube encaixar sua persona brutamontes em registros diversos como o melodrama (Falcão – O Campeão dos Campeões) ou a comédia (Oscar – Minha Filha Quer Casar).

Stallone une-se a Robert De Niro em Ajuste de Contas, longa de Peter Segal que mostra um reencontro entre boxeadores aposentados e promove inúmeras referências cinematográficas. Não há muito o que dizer sobre este filme, a não ser mencionar algumas operações que qualquer cinéfilo que não despreze o cinema americano vai perceber.

De Niro, lembremos, era a cara do cinema contestador dos anos 1970. Ao envelhecer, bandeou dos filmes críticos de Brian De Palma e Martin Scorsese para comédias dos mais variados níveis, do hilário Máfia no Divã ao constrangedor Última Viagem a Vegas.

Os dois veteranos interpretam grandes rivais do passado que chegaram ao título mundial e lutaram duas vezes entre si, com uma vitória para cada. Por um desses artifícios de roteiro (e um empresário ganancioso e insistente), ambos, já com 60 anos, realizarão a luta definitiva para ver quem é o melhor.

Há uma série de citações aos boxeadores que ambos interpretaram no passado. Como Rocky Balboa, o Razor Sharp de Stallone é quase cego de um olho, e parece carregar as mesmas marcas do antigo personagem dentro de si. Em uma cena ele se questiona se beber ovos crus antes do nascer do sol faz mesmo algum resultado, numa alusão à prática do Rocky de 1976 prestes a entrar no momento "getting strong now" (trecho da letra do Bill Conti).

Já Kid McDonnen, personagem de De Niro, assim como o Jake La Motta que o ator interpretou em Touro Indomável, é mulherengo e dono de uma casa noturna. Um falastrão que trafega entre a arrogância e a doçura, quase sempre pendendo para o primeiro lado.

No elenco ainda temos Kim Basinger, musa oitentista que poderia ter mais chances em atuais projetos de peso. Sua personagem foi a catalizadora do ódio entre os dois. Enquanto namorava Razor, passou uma noite com Kid, o único homem no mundo com quem ela não poderia se engraçar. Agora, sua função pode ser redentora.

Essa tendência de brincar com o passado é sensível nos veículos mais recentes para Stallone. De Niro, aqui, pega carona nessa releitura lúdica e meio que ri de si mesmo também, a exemplo de seu colega ('I've got my ass kicked", diz seu personagem após ter apanhado de um grandalhão em Os Mercenários, e aqui a pegada é parecida). Graças a isso temos um filme divertido, embora um tanto previsível. Um filme que sobrevive dignamente graças à força dos atores.

Sérgio Alpendre

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