Ano VII

O Grande Mestre

segunda-feira nov 11, 2013

O Grande Mestre (Yut do Jung Si, 2013), de Wong Kar-wai

A vida do artista marcial Ip Man, divulgador do estilo wing chun de combate, e mestre de ninguém menos do que Bruce Lee, ganhou várias cinebiografias nos últimos anos. Do momento em que o prestigiado Wong Kar-wai anunciou a sua intenção de prestar homenagens à figura de Yp Man, a dupla formada por Wilson Yip e Donnie Yen largou na frente e realizou duas produções a respeito. Mais tarde, um terceiro filme chegaria aos cinemas, uma sequência não-oficial dirigida por Herman Yau e Anthony Wong caracterizado como um Ip Man mais velho. Apesar do sucesso dessas produções, O Grande Mestre era aguardado como a versão que deixaria todas as outras para trás. Se não pelas cenas de lutas em si, o que se esperava do filme era um resultado menos convencional.

Primeira produção chinesa de Wong Kar-wai desde 2046 (2004), temos aqui a obra mais comercial do cineasta, o que não significa que seja algo palatável para grandes plateias. A versão internacional exibida, com alguns minutos a menos, deixa a trama mais truncada e acaba piorando a experiência. Ao contrário de Cinzas do Tempo (1994), primeira incursão de Kar-wai no mundo das artes marciais, aqui a tradicional pretensão do cineasta se perde em meio a um excesso de filosofia que torna o filme aborrecido. Escapando dos perigos de uma biografia típica, a trama não se concentra toda na vida adulta de Ip Man e reserva um tempo considerável com o conflito entre a impetuosa Gong Er (Zhang Yi) e Ma San (Zhang Jin), responsável pela morte do pai dela.

Ip Man é aqui menos um ser de carne e osso do que um ideal, um espírito elevado que é invejado por outros personagens. Nem mesmo nos momentos de maior dificuldade, Kar-wai permite que o espectador vislumbre um sinal de fraqueza no grande mestre. A cena de combate que abre o filme é um dos poucos momentos em que Ip Man deixa se der uma criatura quase etérea, e por sorte o veterano coreógrafo Yuen Woo-ping não deixou as idiossincrasias do diretor lhe atrapalhar. Se revezando entre um herói intocável, uma trama de vingança e um falatório chato sobre a essência das artes marciais, o filme se mostra inferior a qualquer capítulo da trilogia wuxia de Zhang Yimou. Desta vez, a pretensão de Kar-wai acabou perdendo para a perfumaria do outro.

Leandro Cesar Caraça

 

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