Ano VII

CINEMA SUL-COREANO NA 37ª MOSTRA

segunda-feira nov 11, 2013

CINEMA SUL-COREANO NA 37ª MOSTRA

Com uma cinematografia constantemente citada como exemplo de indústria forte e de qualidade, a atual produção sul-coreana ganhou destaque na 37ª Mostra de SP, com nada menos do que dez longas e uma série de curtas, além das reprises da trilogia da vingança de Park Chan-wook e de A Empregada (1960) de Kim Ki-young. Só que, a julgar pelo que foi exibido ao longo de duas semanas, muito pouco temos a celebrar. O cinema da Coreia do Sul se mantém como uma indústria de forte consumo interno, tem alguns nomes manjados em festivais de renome e neste ano três de seus mais conhecidos cineastas se aventuraram em produções faladas em inglês. Como um todo, essa produção sul-coreana não pode ser vista como um lindo oásis em meio à crise de qualidade que atormenta o cinema contemporâneo, seja em Hollywood ou no mercado asiático (Coreia, Japão, Hong Kong, Tailândia).

É muito comum, quando o assunto é Bollywood, se falar no quanto a Índia consegue manter um mercado que produz mais filmes do que os EUA. No meio de tanto deslumbramento, se esquecem de os filmes indianos em sua grande maioria, são muito ruins e com pouca coisa merecedora de algum destaque. O mesmo acontece com a cinematografia japonesa, que passa pela crise mais desesperadora de toda sua história – ainda que as salas de cinemas continuem cheias, graças aos filmecos infantilóides e grandes produções canastronas que se tornaram o filé mignon das plateias nipônicas. Ao menos a Coreia do Sul e Hong Kong (que já teve dias bem melhores), continuam a produzir bons filmes embora o saldo anual de coisas positivas tenha sido reduzido assustadoramente.

Nessa mostra paulista que se encerrou, tivemos a chance de ver apenas três longas-metragens dignos e que se colocaram acima da mediocridade. Um deles foi o documentário Ansiedade (Min Hwan-Ki, 2013), sobre um grupo de jovens idealistas e designers de moda. Noite em Claro (Jang Kun-Tae, 2013) veio saudado como uma espécie de Hong Sang-soo menor. Vamos enfatizar esse menor, por mais simpático que sejam o filme e o casal protagonista. A trinca se fecha com Jovem Infrator (Kang Yi-Kwan, 2012), interessante drama a respeito de um adolescente problemático que reencontra sua jovem mãe, que ele acreditava morta. Não tive chance de ver a sessão de curtas, mas os longas restantes da seleção sul-coreana transitaram do tenebroso ao meia-boca.

Se Olhos Frios (Joh Ui-Seok e Kim Byeong-Seo, 2013) se deu ao trabalho de refilmar e estragar o ótimo Os Vigilantes, produção da Milkway de Johnnie To, o ainda pior Confissão de Assassinato (Jung Byung-Gil, 2012) pegou carona nos thrillers policiais estadunidenses. O resultado deu vergonha. Segurança Nacional (Chung Ji-Young, 2012) não passou de um torture porn travestido de filme político bem intencionado. A Receita Final (Kim Jin-A, 2013), falado em inglês, apesar do tema, nada tem em comum com os bons filmes gastronômicos que se tornaram um subgênero no cinema asiático. Um pouco menos ruins foram os dramas Dezembro (Park Jeong-Hoon, 2012) e Sunshine Boys (Kim Tae-Gon, 2012), embora a falta de maturidade de seus diretores ainda seja gritante. O último da lista é O Garoto Lobisomem (Jo Sung-Hee, 2012), que por pouco não acabou sendo um bom filme. A história é a de uma família que se muda para o interior e encontra um rapaz vítima de experiências médias, o que o transformou numa espécie de homem-logo. Mais em comum com filmes dos anos 80, como E.T. – O Extraterrestre (Steven Spielberg, 1982) ou Um Hóspede do Barulho (William Dear, 1986), só peca pelo excesso de melodrama e por vários finais que se aglomeram nos últimos 20 minutos de projeção. O cinema sul-coreano tem mais a mostrar, tanto no cinema de gênero como no mais autoral. Os filmes selecionados foram, em sua maioria, bem recebidos junto ao público, mas não representam o que de melhor essa filmografia tem hoje. Se bem que no fundo, a grama dos sul-coreanos raramente se mostra mais verde.

Leandro Cesar Caraça

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