Ano VII

O Conselheiro do Crime

sexta-feira nov 1, 2013

O Conselheiro do Crime (The Counselor, 2013), de Ridley Scott

Ridley Scott jamais foi um dos grandes cineastas do planeta, ao contrário do que pensam e defendem alguns. Sua carreira sempre passou por fases boas e outras nem tanto, e seu ápice foi mesmo no começo da carreira, quando fez o híbrido de terror e ficção Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e o cultuado Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982), um filme chave para aquela década. Talvez ele tenha sido o primeiro cineasta a abraçar a estética da publicidade como forma de expressão. Se não foi, estava presente quando os primeiros sinais se mostraram.

Em uma carreira que se prolonga por mais de 35 anos, a filmografia de Scott carrega consigo uma coerência de temas. Também é nos temas que outro tipo de coerência vai surgir, pois em certos gêneros ele se sairá melhor do que em outros. Para alguém que se autoproclama criador de mundos, nos grandes épicos é que ele vai sempre patinar, o que aconteceu principalmente no aclamado Gladiador (2000). Em outras ocasiões, a falta de bons diálogos pode ser compensada pelo ritmo dinâmico que é imposto – e também pelas ótimas cenas de ação – como em Falcão Negro em Perigo (2001), um dos raros bons filmes a glorificar os militares feitos por Hollywood nas últimas décadas. O contrário aconteceu em Até o Limite Honra (1997), quase sempre citado como o fundo do poço para Scott.

Entre grandes produções que não se justificam e filmes menores que pouco ou nada contribuem, será nos thrillers policiais e nas ficções-científicas que Scott conseguirá manter o equilíbrio que lhe falta no geral. O terror parece ser um campo que o atraí e que sempre rende bons resultados, visto o subestimado Hannibal (2001) e os momentos de sustos e violência nas suas incursões pela fantasia futurista – em Alien e no excelente Prometheus (2012). No gênero policial em específico, acertou com Perigo na Noite (1987), Chuva Negra (1989), feitos durante um período de incerteza, e no mais recente O Gangster (2007).

Dando uma pausa em mais épicos medievais ou espaciais, Ridley Scott agora se arrisca com outro thriller. Baseado no primeiro roteiro feito para cinema do escritor Cormac McCarthy, O Conselheiro do Crime é primo em primeiro grau do superior Onde os Fracos Não Têm Vez (2008) de Joel e Ethan Coen. Estamos no mesmo ambiente árido e bruto, com vários personagens sem chance de fuga ou redenção. Os predadores saem para caçar e ao longo do filme uma pilha de corpos vai se amontoando. Se antes havia Javier Bardem como um anjo da morte, aqui existe o caçador supremo que, observando tudo de longe, sobreviverá para comemorar sua vitória diante dos fracos (com Bardem integrando a categoria agora).

Mesmo que o roteiro de McCarthy por vezes abuse do falatório pomposo, que encontraria lugar melhor nas páginas de um romance, Scott vai direto ao ponto e confere ao longa um visual adequado e um andamento que bem conduz a trama violenta e pessimista. O desfile de caras bem conhecidas, dos protagonistas aos que fazem pequenos papéis (como Bruno Ganz e John Leguizamo), se mostra perfeito para povoar o universo de Cormac McCarthy. A bem dirigida cena de sexo entre Michael Fassbender e Penelope Cruz que abre o filme, acaba ficando em segundo plano diante de outra que surge mais para frente. Bizarra no geral, será o único momento de maior humor durante o carnaval de violência servido aqui. Para o construtor de mundos Ridley Scott sempre haverá a redenção nos thrillers.

Leandro Cesar Caraça

 

 

 

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