Ano VII

Segurança Nacional

sexta-feira out 25, 2013

Segurança Nacional (Nam-Yeong-Dong 1985, 2012), de Chung Ji-young

Há muito tempo atrás, antes de ter sido tragado pelo lado negro da força, George Lucas dizia que para emocionar o público bastava que se filmasse um gato sendo estrangulado. Nessa mesma época, os filmes de horror passaram a elaborar criativas cenas de assassinato para manter a atenção do público alvo. Atualmente, os famigerados filmes de torture porn (que se originaram de verdade no início dos anos 60) dão um novo sentido à teoria do gato de Lucas.

Mais do que simplesmente assistir a um personagem ser morto de uma maneira pouco usual, os fãs mais extremos de horror fizeram do torture porn uma mina de ouro, a ponto de influenciar produções de outros gêneros. Junte a isso, a queda da máscara do exército estadunidense graças a obscenidades como Guantánamo e aos vídeos de execuções que poluem as páginas da internet, e temos então uma considerável parcela de pessoas querendo gastar seu tempo vendo filmes de torturas. Mas não as torturas estilosas de um Dr. Phibes ou as filmadas por Jesus Franco ou Herschell Gordon Lewis.

Há uma grande quantidade de filmes que se vendem como horror, apenas por possuírem cenas de indivíduos sendo torturados. O que vai representar boa parte de sua duração. Houve um tempo em que os cineastas tinham algum discernimento em relação ao limite das coisas a mostrar. Das produções mais baixas e revoltantes até filmes de grande orçamento, a influência dos torture porn está bem presente. Assim como se pode questionar Mel Gibson por causa da violência extrema no religioso A Paixão de Cristo (2004), isso também será tem que ser feito com quem se utilizam do mesmo método em produções que recontam o passado de torturas políticas de algum regime ditatorial. O problema não é o que mostrar, mas como mostrar e quanto querem mostrar.

No caso do sul-coreano Segurança Nacional (2012) de Chung Ji-Young, temos um exemplar de cinema político do mais rasteiro. Reconstituí os 22 dias de prisão e tortura sofridos em 1985 pelo ativista Kim Geun-tae, que mais tarde se tornaria Ministro da Saúde de 2004 a 2006. Por volta de 80 % do tempo, o filme se concentra nos choques elétricos, afogamentos e outras barbaridades a que Geun-tae é submetido. Quando isso não acontece, somos confrontados por cenas de uma pieguice igualmente assustadoras. Diferente de uma aberração de outro tipo, como Batismo de Sangue (Helvécio Ratton, 2007), a qualidade e o empenho do elenco contam positivamente. Pena que no geral a teoria do gato formulada por George Lucas seja a base que sustenta o filme.

Leandro Cesar Caraça

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