Ano VII

Miss Violence

sexta-feira out 25, 2013

Miss Violence (2013), de Alexandros Avranas

A julgar apenas por seu trailer, Miss Violence (2013) – o candidato grego deste ano a uma vaga ao Oscar – fica a impressão de que o filme de Alexandro Avranas segue à risca a cartilha de cinema praticada por Yorgos Lanthimos, este responsável por Dente Canino (2009) e Alpes (2011).

Depois de assistir ao filme (em uma sala lotada no meio da tarde), tive a sensação de que Alexandros Avanos pode ser apenas um pseudônimo de Lanthimos. Ou então é o contrário, tanto faz. A semelhança na condução da trama e nas atitudes dos personagens sugere que é a conclusão de alguma trilogia sobre uma suposta loucura que se apossou da sociedade grega tradicional. Esse novo cinema grego parece ter pretensões de chocar com a conduta peculiar das figuras centrais dos filmes. Mas é tudo tão calculado e sem espaço para a câmera e os atores respirarem, que só rindo mesmo.

Se Lanthimos ainda consegue algum resultado positivo (ainda que mínimo), Avanos em Miss Violence nunca escapa da previsibilidade do roteiro e de como será o desfecho desse teatro de horrores da vida privada. As emoções reprimidas, a câmera parada que de vez em quando resolve seguir alguns dos personagens, o mesmo filtro de lente usado durante o filme inteiro, tudo isso acaba torrando a paciência. O rigor doentio com que o patriarca trata sua família é só um espelho da caretice do diretor. O Leão de Prata ganho em Veneza continua a ser uma incógnita. Miss Violence não passa de um cinema interessado em chocar por chocar, querendo entender a grave crise financeira e social grega através da demência dos personagens.

Alguns mencionaram um cinema realista por parte do novo cinema grego. Nada mais longe da verdade. Apenas filmam a sordidez e a bizarrice humanas, e depois olham para o outro lado, incapazes de digerir e refletir o que eles mesmos mostraram. Gente como Avanos precisa ler Nelson Rodrigues ou ver algo como Visitor Q (2001) de Takashi Miike. Este sim, um verdadeiro soco no estômago, muito mais corajoso, e o mais importante, cinema de primeira linha.

Leandro Cesar Caraça

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