Ano VII

Noite em Claro

quinta-feira out 24, 2013

Noite em Claro (Jam Mot Deu-Neun Bam, 2013), de Jang Kun-Jae

Filme de discussão de relacionamento à sul-coreana. Ou seja, em parte considerável de sua curta duração (pouco mais de uma hora), as personagens comem e bebem a ponto de deixar o espectador faminto e com sede. Há, também, cenas de sexo filmadas com grande naturalidade, mas o talento de seu realizador, Jang Kun-Jae, está a milhas de distância do de um Hong Sang-soo, e as comparações com o cineasta de A Visitante Francesa devem parar por aqui.

O pequeno charme de Noite em Claro está em sua economia: um jovem casal contempla a possibilidade de ter um filho. Ela é professora de ioga, enquanto ele separa caixas de papelão em uma empresa, e se vê obrigado a trabalhar aos domingos, sem qualquer tipo de remuneração extra.

O único momento mais tradicionalmente dramático ocorre quando ele se demite, após brigar com o seu patrão. Esta é a única cena problemática do filme, na qual Kun-Jae não consegue prescindir da manjada câmera na mão para imprimir o tom nervoso que o momento exige.  

Nada, no entanto, suficientemente grave para tirar alguns de seus modestos méritos, como, por exemplo, a cumplicidade e o carinho mútuo que emergem do par em questão ou, também, a dignidade em evitar a facilidade que seria converter o momento de crise do enredo (o súbito desemprego do marido), em um forçoso trauma para o casal. Pelo contrário, durante a projeção, a esposa nunca ficará sabendo e, realmente, nem seria preciso: é só olhar para os rostos dos dois para compreender que o casamento deles não está em jogo.

Pensando bem, os méritos de Noite em Claro não são tão modestos assim.

Bruno Cursini

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