Ano VII

O Árbitro

quarta-feira out 23, 2013

O Árbitro (L´arbitro, 2013), de Paolo Zucca

Filmes sobre futebol costumam ser perfeitos para a construção de uma crítica social, o que não impede ninguém de trilhar um caminho diverso. O que ameaça se tornar uma moda por aqui, como foi mostrado em O Casamento de Romeu e Julieta (2005) de Bruno Barreto e Heleno (2012) de José Henrique Fonseca. São duas produções que tratam o futebol sob a ótica das classes altas, e que por isso, acabam desfalcadas do forte apelo popular que este esporte carrega consigo, transformando-se em obras tão elitistas quanto uma relíquia como O Craque (1954) de José Carlos Burle.

Esse posicionamento que busca o olhar de cima para baixo, não ocorre em O Árbitro (2013) de Paolo Zucca, mesmo que o seu personagem-título comece o filme como a revelação de alguma prestigiada competição européia interclubes. Terra outrora fértil no cinema autoral e comercial, mas hoje devastada quase que em sua totalidade, a Itália ainda mantém várias práticas herdadas do neo-realismo e da commedia all’italiana. As qualidades redentoras da obra assinada por Zucca estão centradas no roteiro que busca raízes no passado, com três subtramas que caminham paralelas e se entrelaçam na parte final.

A rivalidade entre duas equipes sardas da terceira divisão italiana representa a melhor parte em O Árbitro. O fraco time do Atlético Pabarile – eterno saco de pancadas do mais rico Montecrastu – se vê com reais chances de vencer o campeonato quando repatria Matzutzi, que passou mais de anos morando na Argentina e se revela um bom jogador. As duas outras tramas dizem respeito a uma desavença entre dois jogadores do Montecrastu e à descida ao inferno do promissor juiz Cruciani, ou melhor, sua queda para a terceira-divisão depois de um escândalo de corrupção em que se envolveu.

A direção de Zucca é irregular, sem brilho ou cadência, e a fotografia em preto & branco deixa o filme vagando em um limbo entre a estética publicitária de um comercial da Nike e a pretendida herança dos tempos de Monicelli e Zampa. O que se salvam são momentos esparsos (como o cego que treina o Pabarile) e a visão de baixo para cima que nunca se desprende do filme. O cinema italiano está virando uma terceira divisão e produções como O Árbitro representam os Matzutzis da cinematografia atual. São pernas-de-pau se comparados com os craques de antigamente, mas funcionam dentro do esquema de várzea.

Leandro Cesar Caraça

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