Como Um Leão

Como Um Leão (Comme un Lion, 2013), de Samuel Collardey

Um pobre garoto do Senegal é escolhido por um olheiro para viajar à França e participar do processo de seleção para tornar-se jogador profissional de futebol. Para isso, a idosa avó do rapaz deve pagar os custos da viagem e, também, os honorários do suposto empresário. Após todas as dificuldades para alcançar a soma exigida, logo percebemos tratar-se de um golpe, e o jovem chega a Paris para, imediatamente, ser abandonado nas ruas.

Como o breve resumo do enredo acima demonstra, já vimos este filme diversas vezes, mas aqui a paleta ganha leves tons documentais e de crítica social, convenientemente buscando uma aproximação entre o dito cinema de arte e o mais abertamente comercial, fazendo ao máximo no intuito de parecer “baseado em fatos reais”. Nada de muito mal nisso, não oscilasse o resultado entre o medíocre (na maior parte do tempo) e o ridículo (em particular no seu artificial final feliz).

Típico roteiro de superação do herói frente às adversidades da vida, encontramos, em Como Um Leão, muitos dos clichês que esperamos, desanimadamente, desde os seus instantes iniciais:  a ingenuidade do protagonista servindo reiteradamente aos aproveitadores de plantão; a clássica ajuda de algum desconhecido bem-intencionado mas incapaz; o inevitável encontro com um tutor durão, no caso, um ex-jogador fracassado, que fará de sua história um modelo para o pupilo evitar, e que cuja própria regeneração ocorrerá em paralelo a do novato, fazendo desta oportunidade, sua última chance; o arquirrival, agora na pele branca e nos olhos azuis do filho do patrocinador deste minúsculo time.    

Talvez o único mérito real do filme esteja na composição da postura do aspirante a ídolo, sempre determinado e nunca passivo, abusando de seu charme e evitando a todo custo qualquer forma de autovitimização, mesmo que por vezes isso possa fazê-lo parecer arrogante ou malcriado. 

Bruno Cursini