Ano VII

Deixe-me Entrar

terça-feira nov 22, 2011

 

Deixe-me Entrar (Let me In, 2010), de Matt Reeves

Deixe-me Entrar é a refilmagem americana do belo (e recente) Deixe Ela Entrar, produção sueca dirigida por Tomas Alfredson. A comparação é inevitável, assim como a constatação da superioridade do original sobre o remake (bastante fiel, diga-se). Ainda assim, Deixe-me Entrar permanece como uma boa história de terror, muito superior aos títulos aos quais a mídia teima em associá-lo – os famigerados “filmes de vampiro para adolescentes” –, podendo ser avaliado por seus próprios méritos – entre esses, a opção do diretor Matt Reeves (Cloverfield), de ressaltar o caráter espetacular, gore, desta fábula juvenil.

Como no original, o filme gira em torno de Owen, um garoto de 12 anos, crescendo em uma pequena cidade do Novo México, no inicio dos anos 1980. Abby é sua vizinha recém-chegada, a quem Owen logo se identifica. Suas vidas são análogas: ambas são figuras circunspectas, introspectivas, desajustadas no meio em que vivem. Ele é filho de pais ausentes e divorciados, cuja visível fragilidade o faz vítima fácil dos colegas de sua escola; ela é uma vampira que, presa a um corpo de uma menina de 12 anos, vê seu antigo e exausto parceiro (interpretado pelo sempre confiável Richard Jerkins) se encaminhar para a morte.

Toda a beleza do enredo se concentra nestas relações, mas Reeves nunca esquece o fato de estar dialogando com uma longa tradição cinematográfica, e o terror aqui, por nenhum momento, se faz constrangido: para viver, Abby necessita do sangue humano que seu parceiro envelhecido lhe traz, o que o faz uma espécie de assassino em série, e o que os obrigam a levar uma vida nômade. A relação entre os dois não é o que se poderia esperar de alguma produção independente americana, onde o caráter agridoce normalmente serve para maquiar um típico romance morno. Há, de fato, cumplicidade entre os dois, mas o amor de outrora já cedeu lugar a um esgotamento físico e mental – e nisso a cena final entre os dois, onde toda a devoção do homem se faz necessária, é notável. Resta a Owen a decisão de substituí-lo, sabendo exatamente o peso que tal atitude irá lhe impor.

Bruno Cursini

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