Ano VII

A Garota do 14 de Julho

domingo out 20, 2013

A Garota do 14 de Julho (La Fille du 14 Juillet), de Antonin Peretjatko

Debutando em longa-metragem, Antonin Peretjatko cria uma versão cartoon para a atual crise financeira e política da França, revisitando o cinema que seu país exibiu a partir dos anos sessenta, em particular o de Jean-Luc Godard.

Para não surgir obsoleto e evitar maiores aproximações àquelas produções com as quais A Garota do 14 de Julho fora tão evidentemente calcado (Acossado, O Demônio das Onze Horas e, sobretudo, Weekend à Francesa, para ficarmos nas mais evidentes), Peretjatko recorre ao burlesco, apresentando gags absurdas no formato de colagem, violentamente confrontando a onipresença do naturalismo no cinema atual. Com isso, faz de seu primeiro filme algo livre, excitante, de uma inventividade anárquica bastante ingênua, ora dando vazão a uma selvageria satírica debochada, ora brincando ingenuamente com a linguagem cinematográfica.   

Seu ponto de partida é dos mais simples: cinco amigos seguem ao litoral quando descobrem que uma medida injustificada do governo cancelara as férias da população. A crise torna-se caos, e os jovens acabam envolvendo-se com toda sorte de corrupção e violência, enquanto seus planos de diversão são boicotados a cada instante. 

Por trás desta filiação tão evidente (o 16mm, as cores primárias, as belas garotas em seus biquínis e trajes de verão, os ataques frontais a todo tipo de instituição), A Garota do 14 de Julho consegue evitar a nostalgia algo sufocante de um Christophe Honoré, por exemplo. Pelo contrário, emite uma beleza romântica e espontânea através do tolo.

Nada nada, não estamos em 1963, 73 ou 83 e essa boa estreia é, na verdade, das mais promissoras vindas de seu país nos últimos anos.

Bruno Cursini

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