Ano VII

Inside Llewyn Davis

sábado out 19, 2013

 

Inside Llewyn Davis (2013), de Ethan e Joel Coen

Inside Llewyn Davis, novo filme dos irmãos Coen e vencedor do Grande Prêmio do júri em Cannes, tem boa parte dos ingredientes que consagraram a dupla de diretores: uma narrativa fluída, bem contada e filmada; personagens estranhos, curiosos e carismáticos ainda que não busquem ser; diálogos ácidos, boas piadas e situações que beiram o bizarro, mas que nunca deixam de estar com um pé na realidade.

O filme segue Llewyn Davis, um cantor de folk sem grande expressão que perambula por Greenwich Village em Nova Iorque. E nesse estar com ele, por uma semana, o filme incorpora certos traços do personagem: a falta de ambição, o desprezo pelo imperativo de um sentido ou causa, uma malemolência nas ações, a aceitação da realidade tal qual é. Ingredientes que acabam criando, e isso graças ao talento, elegância, tempero e fino humor dos Coen, uma enorme e empatia com público. Empatia, que num outro registro, ocorre de modo parecido com a galeria de fracassados de Woody Allen, por exemplo.

Mas Llewyn não é um loser típico, e não estão em jogo apenas os valores da sociedade norte-americana; os Coen não querem fazer, apenas, como já fizeram, um quadro da sociedade norte-americana e suas figuras atípicas – ou se bobear típicas -; recriam, isso sim, a atmosfera de uma época, o início dos anos 60, que daria Bob Dylan, citado indiretamente no final do filme. E, além disso, estruturam uma visão de mundo na qual, sem prejulgar o personagem, sem condená-lo, mostra quão dura e cruel é a vida – o filme começa e termina no mesmo ponto, fechando o círculo de uma semana, com o personagem sendo surrado – com aqueles que desgarrados dos valores tradicionais não tem um lar para voltar. Nesse ponto, Llewyn Davis está numa situação pior que a do gato que o músico deixou escapar e que depois de uma semana encontra o caminho de volta.

No caso do cantor, desse Ulisses moderno destituído de qualquer traço épico, não há volta, não há caminho que traga a algum lugar seguro; só idas, inconstâncias e errâncias.  

Cesar Zamberlan

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