Ano VII

Invocação do Mal

quarta-feira set 18, 2013

Invocação do Mal (The Conjuring, 2013), de James Wan

Com os diretores que se consagraram no horror dos anos 1970 e 1980 pouco se manifestando nos últimos tempos, ou já com entrada no processo de aposentadoria, o novo cinema de sustos dos EUA vem revelando alguns nomes ao longo deste novo milênio. Dos ridículos (Rob Zombie, Brad Anderson, Darren Lynn Bousman, Adam Wingard) aos mais interessantes (Eli Roth, Ti West, Lucky Mckee, Jim Mickle), o nome do australiano de origem malaia James Wan se destaca entre eles. Vindo do sucesso do primeiro Jogos Mortais (2004), o jovem cineasta manteve-se apenas como produtor da franquia de torture porn e passou a trabalhar outro estilo de história de terror, desta vez mais clássica, envolvendo espíritos e assombrações.

A primeira tentativa, Gritos Mortais (2007), fracassou graças à interferência dos produtores que remontaram todo o material e refizeram várias cenas. O resultado final, ainda que decepcionante, trazia bons momentos e deixava claro que havia um esboço de um filme decente soterrado no meio de tantas escolhas equivocadas. Quatro anos mais tarde, Wan se recuperaria com Sobrenatural, um compêndio de sustos bem construídos e que dividiu opiniões por sua opção em virar uma montanha-russa na parte final. Ainda que essa escolha destoasse do resto do filme, está em total acordo com algumas das melhores obras que o terror estadunidense dos anos 1980 apresentou (Wes Craven, Tobe Hooper, Stuart Gordon …).

O sucesso de Sobrenatural e da franquia Jogos Mortais, transformou James Wan na figura de maior sucesso no horror desde que Wes Craven inaugurou a saga Pânico em 1996. Posto que se consolidou com o primeiro lugar nas bilheterias alcançado este ano, tanto com Invocação do Mal quanto com a sequência de Sobrenatural. Mas o que significam estes números, uma vez que a própria franquia de Jogos Mortais, criação de Wan e que conseguiu chegar até o sétimo capítulo, pouco tem a se salvar?  É verdade que o jovem diretor, assim como quase todos da nova geração, ainda nada fez que o colocasse no mesmo patamar de mestres como Romero e Carpenter, ou Hooper e Craven em determinados momentos das carreiras.

Dentre as revelações estadunidenses, Jim Mickle (Infecção em Nova Iorque, 2006 e Anoitecer Violento, 2010) surge como o mais talentoso, junto do irrequieto Eli Roth (O Albergue, 2005). Por sua vez, James Wan, na melhor tradição de William Castle, vende sustos para as platéias, cansadas do festival de tripas e mutilações que assolou o gênero desde o primeiro Jogos Mortais.  Ele não renega outras vertentes de cinema comercial, como no mediano Sentença de Morte (2007), – uma cópia de segunda categoria de Desejo de Matar – ou no vindouro Velozes e Furiosos 7, que está filmando agora. Artesão ainda em desenvolvimento, Wan sabe como fazer o público pular da cadeira, tendo encontrado o nicho perfeito para essa habilidade.

Com Invocação do Mal, baseado em relatos supostamente reais do casal Ed e Lorraine Warren (os mais famosos investigadores paranormais dos EUA), temos o melhor filme de terror em um ano fraco no gênero, mas que nem por isso tira o mérito da obra. A escolha por um cinema de sustos, desprovido dos excessos contemporâneos, o coloca em destaque entre as principais produções de casas mal-assombradas desde os anos 80. Não há nada da parafernália de efeitos vista em Poltergeist – O Fenômeno (1982). O que há em comum é o talento que James Wan compartilha com Tobe Hooper em criar momentos de pavor que ficarão marcados no público. Nada mal para quem começou promovendo o torture porn a um modismo.

Leandro Cesar Caraça

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