Ano VII

Barbara

quinta-feira jan 17, 2013

Barbara (2012), de Christian Petzold

Realiza-se, em Barbara, ao menos um ponto inegavelmente positivo, capaz de aqui e ali fazer com que nós, espectadores, esqueçamos do desânimo que parece partir da condução de Christian Petzold para contaminar todos os seus personagens: uma precisa capacidade em recriar um tempo e lugar bastante definidos, no caso, a Berlim Oriental, em 1980.

Neste quesito, o rigor e a concisão – substantivos que o cineasta alemão visivelmente tomou como mantras absolutos – parecem justificáveis, e são poucas as obras que, sem recorrer ao que existe de mais óbvio em nosso imaginário coletivo sobre a Cortina de Ferro, conseguem impor um clima de opressão que, não fosse o diretor tão adepto à apatia blasé que vem há tempos fazendo a festa em festivais mundo afora (e que aqui é feita com uma competência muito superior a média), poderia ter-se saído com um drama de época raro, que não faria feio diante qualquer grande filme de terror.

A moça que empresta seu nome ao título é uma médica exilada de Berlim (por razões que serão, evidentemente, de início, veladas), trabalhando em um hospital rural comandado por outro médico, por quem ela – talvez – esteja se apaixonando. A necessidade de Petzold em seguir o seu programa formal pesa, a ponto de não sabermos se essa mais contida das personagens seria realmente capaz de um ato insensato como é toda e qualquer paixão, ou então se dela, de fato, veríamos um imenso gesto de altruísmo para com uma jovem solitária, ainda mais necessitada da libertação deste estado de vigilância e temor absurdos.

Essa atmosfera de desconfiança impregna as relações interpessoais: será que seu superior está mesmo apaixonando-se por ela ou seria ele um espião do governo da República Democrática Alemã? Por que não os dois, simultaneamente? Afinal, eis outro mérito do filme: mostrar que a angústia que um regime totalitário impõe sobre seus habitantes faz com que estes não criem laços verdadeiros de amizade e amor ou, melhor, faz com que isso ainda assim seja possível: sempre será, apesar de tudo e contra todos.

Essa é a conclusão algo comum que Petzold chega ao término desta jornada, não muito distante daquelas que aguardaríamos em um trabalho dos irmãos Dardenne, por exemplo. O problema não é a trivialidade de sua afirmação; aliás, nunca o é. Pelo contrário, Barbara deixaria de ser apenas um elegante e talentoso drama se assumisse despudoradamente sua ascendência “de gênero” – fato esse que sua premissa e, principalmente, seu ótimo desfecho, não conseguem reprimir.

Bruno Cursini

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