Ano VII

O Homem da Máfia

quarta-feira dez 26, 2012

O Homem da Máfia (Killing Them Softly, 2012), de Andrew Dominik

Segunda parceria entre o astro Brad Pitt e o diretor Andrew Dominik, O Homem da Máfia continua com o olhar focado no ambiente criminoso. O anterior, o faroeste O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford (2007), estudava a figura do mítico pistoleiro (Brad Pitt) através do fascínio que exercia entre seus pares, em especial no jovem admirador Robert Ford (Casey Affleck), que viria a matá-lo. Baseado em um romance de Ron Hansen, lançado em 1983, o filme entendia a relação entre os dois como similar aos exemplos contemporâneos entre celebridades e fãs extremados. Em O Homem da Máfia, porém, a ambientação nos anos 2000 permite comentários mais diretos sobre as questões da atualidade.

Desta vez, Dominik volta a trabalhar com um material literário (o livro Coogan’s Trade, de George V. Higgins, lançado em 1974), adaptado ao turbilhão do colapso financeiro de 2008. Ambientado no ano da eclosão da crise mais recente no mercado financeiro estadunidense – e também da disputa presidencial entre Barack Obama e John McCain –, o filme mostra um lado nada glamoroso da vida de ladrões e matadores profissionais.

A trama se desenvolve a partir do roubo de uma casa de jogos por dois marginais. Eles são bandidos pequenos, dignos de pena, preocupados em tentar sobreviver à margem da sociedade, mesmo que para isso precisem se utilizar de ações patéticas como roubar e revender cachorros. O assalto praticado por eles acaba tendo reações imediatas, como a perda da confiança dos mafiosos em relação às instituição criminosas e também a diminuição da circulação de dinheiro.

O quadro se complica quando é sabido que o próprio gerente da casa de jogos (Ray Liotta), já havia executado, ele mesmo, um golpe em passado próximo. E claro, que ele será o principal suspeito desta vez, porque muitos acreditam que ele seria idiota o bastante para repetir o procedimento.

Para resolver este caso, é convocado Jackie (Brad Pitt), um profissional especializado em limpar a sujeira dos outros. Ele gosta de despachar os elementos sem muitos problemas, prefere evitar contato maior com sua vítima, para não criar constrangimentos. Matar uma homem é coisa normal, mas ficar ouvindo os lamentos da vítima, é algo desagradável para Jackie, ainda mais quando tem alguma relação pessoal com ela. Para levar o trabalho adiante, chama um associado (James Gandolfini), que por sua vez, não passa por um bom momento – tem a prisão decretada, um divórcio em andamento e se entregou à bebida.

Ao longo do filme, vemos trechos das campanhas de Obama e discursos de George W. Bush a respeito da crise que piora a cada dia. Os tempos estão difíceis até para os criminosos. Uma simples ordem de assassinato é difícil se der dada, pois a própria organização parece mais um monstro de várias cabeças – o que interfere na rápida execução do trabalho.

O cinema americano já mostrou criminosos acuados (e certos de que seu destino está traçado) em obras de qualidade como Os Amigos de Eddie Cole (Peter Yates, 1972) – também baseado em romance de George V. Higgins – e Jogos de Azar (Robert Mulligan, 1974). O filme de Andrew Dominik está bem próximo deles, dizendo muito sobre problemas que atormentam hoje os EUA e uma considerável parte dos países europeus. No fundo, a América não passa de um grande negócio, como lembra o personagem de Pitt.

Leandro Cesar Caraça

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