Ano VII

Edifício Master

terça-feira dez 18, 2012

Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho

A partir de Santo Forte (1999) e passando por Babilônia 2000 (2001), Eduardo Coutinho já vinha explorando a relação entre pessoas comuns e a câmera, conceito que atingiu uma intensidade ainda maior com Edifício Master. Saindo das favelas e da visão de camadas populares sobre temas mais marcados (a religiosidade no primeiro filme, a virada do século no segundo), Coutinho leva agora sua fórmula a um prédio de pequenos núcleos residenciais de Copacabana, habitado primordialmente por pessoas de classe média baixa. Não é mais um tema que une os depoimentos, mas sim o simples ato de residir no prédio.

Mais que tratar o edifício como alguma espécie de microcosmo, ou pintar alguma espécie de retrato da vida urbana, Coutinho e sua equipe vêm aqui buscar as particularidades individuais de seus personagens-moradores, incluindo o próprio edifício, que tem seus ambientes silenciosos retratados em breves entreatos pontuando os depoimentos, como um desses personagens. São figuras humanas mesclando sua pequenez e sua grandeza, das quais Coutinho não tenta extrair depoimentos rigorosamente verídicos, mais sim a verdade que os personagens tentam transmitir naquele momento de único diálogo com a câmera, como se mostra evidente no depoimento de Alessandra, a jovem que confessa “mentir bastante”.

Fica bem claro, para quem conhece a obra posterior de Coutinho, o quanto Edifício Master sedimenta ideias que viriam a se cristalizar nos filmes seguintes. Se vemos aqui que depor para a câmera é acima de tudo um ato de representar, o conceito do que difere pessoas comuns e atores dará origem a Jogo de Cena (2007). Ou a emoção com que Nadir interpreta uma canção de Lupicínio Rodrigues é a concreta semente de As Canções (2011), isso para ficar em apenas dois exemplos.

Porém, acima dos conceitos que norteiam uma obra, Edifício Master pode ser destacado pela pureza com a qual Coutinho consegue transmitir as emoções de cada um dos depoentes, e buscar uma identificação entre eles e o espectador, que, por sua vez, se emociona com a simplicidade daquelas figuras humanas, muitas delas inesquecíveis, como o síndico que administra mesclando “Piaget e Pinochet” ou seu Henrique cantando My Way.

Gilberto Silva Jr.

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