Ano VII

Gonzaga – De Pai pra Filho

quinta-feira nov 8, 2012

Gonzaga – De Pai pra Filho (2012), de Breno Silveira

Em Cartola, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, há um momento em que a câmera entra num túnel e ficamos no escuro por quase um minuto. Do outro lado do túnel, reencontramos o mestre Cartola em outro paradeiro, para a retomada de sua carreira musical e subsequente glória artística com o lançamento de discos. O espaço do túnel, já disse Lírio, é o momento em que o samba deixou de ser a música mais popular do Brasil, dando lugar ao baião. E se falamos em tal ritmo musical, não temos como deixar de lado o músico que foi considerado o Rei do Baião, o grande Luiz Gonzaga.

Gonzaga – De Pai pra Filho, segundo longa-metragem de Breno Silveira a ver a luz em 2012, e o quarto de sua carreira, tenta dar conta justamente desse reinado, e da queda que se seguiu, por meio de um longo flashback: pai conta para filho, o igualmente grande Gonzaguinha, como foi que se deu sua história, e tenta entender e justificar o porquê da relação sempre turbulenta entre os dois.

São dois gênios da música, cada qual com seu estilo. Luiz Gonzaga trazia consigo o sertão pernambucano e não arredava pé de suas origens. Gonzaguinha, nascido no Rio de Janeiro, fazia uma MPB mais sofisticada, com toques de samba-canção, bossa nova e arranjos urbanos. Breno Silveira chega então a seu terceiro projeto que envolve a música, lembrando que o primeiro, 2 Filhos de Francisco, com que Gonzaga guarda maior semelhança pelo formato cinebiografia musical, é o único bem-sucedido em termos artísticos, e o segundo, À Beira do Caminho, fica no meio do caminho na tentativa de se servir de Roberto Carlos para criar um filme sentimental.

Gonzaga – De Pai pra Filho também fica no meio do caminho, principalmente pelo abuso de clichês que raramente são funcionais. Existem mais por preguiça de criar situações narrativas interessantes do que para servir à evolução do relato. O primeiro show da vida de Luiz Gonzaga, por exemplo, é um primor da falta de tato narrativo. O menino entra no palco e tudo que faz é arranhar sua sanfona, para desespero do coronel e dos demais presentes. Quando aparece a filha do coronel, linda garota por quem o futuro Rei do Baião está apaixonado, ele milagrosamente começa a tocar bem, levando todos à dança compulsiva. É a velha dualidade fracasso/sucesso esfregada em nossas caras da maneira mais pobre possível. Outros momentos como esse se sucedem ao longo do filme, e ainda há o sempre desagradável atalho de fazer com que acontecimentos marcantes se acumulem durante um longo tempo, como se a narrativa precisasse ser acelerada, aparentando um longo trailer.

O filme tem, sim, seus momentos fortes. Sobretudo os que mostram pai e filho conversando e se desentendendo, em cenas mais intimistas que fazem com que Júlio Andrade, impressionantemente parecido com o Gonzaguinha original, se destaque como o grande ator que é. Os momentos musicais, sobretudo aqueles em que ouvimos as versões originais dos sucessos de um e outro, também colocam o filme para cima, evitando o vexame.

Noves fora, é mais uma bola na trave de Breno Silveira, mais um longa que trabalha de forma preguiçosa uma trama com bom potencial e se eleva nos momentos em que abandona a zona de conforto. Se bem que ao se servir da obra de dois grandes da música brasileira, Silveira está pisando em terreno mais do que seguro, está sempre, de certa maneira, nessa zona de conforto.

Sérgio Alpendre

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