Ano VII

Jovens de Pequim

terça-feira out 30, 2012

Jovens de Pequim (You-Zhong, 2012), de Zhang Yuan

São poucas as questões que Jovens de Pequim, o mais novo filme de Zhang Yuan, levanta. Mas seu interesse não está no universo habitado pelos jovens à margem. Está na filiação estranha, fora-de-lugar, que coloca Jovens de Pequim como uma espécie de irmão distante dos filmes independentes americanos, e tudo que cerca essa escolha. Estamos diante de uma espécie de elogio do simplório. A dramaturgia esvaziada.

O filme acompanha um grupo de jovens que giram em torno de nosso protagonista, pessoas que correm pelas beiradas numa Pequim contemporânea, onde a ambição e o capital parecem ter tomado qualquer senso de equilíbrio de seus moradores. Nosso protagonista entra numa depressão profunda ao perder sua cadela Felicidade, e morde um copo, ferindo-se seriamente. Já fica evidente o registro direto no filme, quase didático, só que com um espirito lírico, meio alucinatório. Infelizmente, esse encontro esquisito que Zhang Yuan propõe não tem prosseguimento, e o filme se torna apenas simples e óbvio. Ele, o protagonista, resolve então se calar. Passará o filme todo em silêncio, porém, na prática, não, já que estará falando sem parar no off do filme, um recurso que aqui é apenas preguiçoso. O filme conta já na primeira sequência que se encerrará quando então o protagonista finalmente falar de novo, reforçando ainda mais o tratamento pouco criativo que o diretor dá ao tema.

A coisa não muda entre os parceiros dele, renegados; um deles trabalha  travestindo-se e conhece o protagonista ao dividir com ele o quarto da enfermaria, criando um elo entre os dois e o terceiro amigo, que cuida do protagonista, tendo cometido um crime para poder pagar as contas do hospital. Falta, é claro, uma garota, que socorre o protagonista na sua tentativa de auto-destruição, e que canta numa banda de rock que irá, sem maior surpresa, chutá-la quando tiver chance de fazer sucesso.

Estão postos os ícones comuns desse universo, e a cada instante em que se espera algo novo, o filme mostra apenas a reciclagem. São muitas as cenas em que se assiste aos momentos mais óbvios, como o banho de mar dos três amigos, ou o plano mais típico desses filmes, aquele em que os três caem um sobre o outro, bêbados, e ficam ali deitados por um instante. A grande questão que o filme propõe seria então: por que não o simplório? Como se coubesse ali, nesse tipo de registro, a oportunidade de confrontar estes mesmos temas recorrentes no cinema, dentro da sua China particular.

O filme traça com alguma força esse olhar, no ambiente em que os personagens trafegam, nos gestos cruéis que muitos dedicam entre si. O que não funciona é que o filme é muito mais preguiçoso do que vazio. O interesse teórico que o filme poderia ter, cai. Fica também a curiosidade de que Zhang Yuan foi outrora um cineasta celebrado nos festivais, inclusive no Brasil. Num desses fenômenos comuns, o interesse mudou para outros cineastas mais jovens, o que talvez Jovens de Pequim mais que justifique. Se o compararmos ao Plataforma do Jia Zhang-ke, sobrará muito pouco do filme de Zhang Yuan. Há no filme, no entanto, algo que gera ainda um mistério, talvez ali entre as tendências destrutivas de seus personagens e o ambiente inóspito que eles vivem. Todavia, o filme reafirma sua filiação na sequência final, quando o protagonista enfim retomará a fala, ao ser questionado, junto dos outros jovens, sobre quem seria o pai da criança, ele se levanta e diz: ‘Eu.’ E o mistério parece então bem menos curioso.  

Guilherme Martins

© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br