Ano VII

Sobre o Céu Rosa

quarta-feira out 24, 2012

Sobre o Céu Rosa (Momoiro Sora Wo, 2012), de Keiichi Kobayashi

Estreia em longas-metragens de Keiichi Kobayashi, Sobre o Céu Rosa é um delicado conto adolescente sobre a importância da esperança. Seu próprio roteiro trata do poder do otimismo, e seus personagens podem, por vezes, surgirem tolos, mas nunca maliciosos.

Izumi é uma estudante que, voltando das aulas, em sua primeira aparição na tela, encontra uma carteira recheada de dinheiro. Como nela também continha a identificação (e o endereço) de seu dono, a garota segue até sua casa e, ao longo do caminho, vai resmungando sobre a beleza e o tamanho das casas nesta região rica da cidade.

O passatempo da moça é classificar as notícias que saem nos jornais impressos, atribuindo notas negativas (para os conteúdos mais desanimadores) e positivas (aos escassos textos com boas novas). O balanço é sempre o mesmo: vitória esmagadora das divulgações sobre as mazelas do indivíduo.

Esse parece também ser um comentário de Kobayashi sobre a produção cinematográfica contemporânea, e seu roteiro (lembrando que ele também foi o responsável pela edição e fotografia do filme) se esforçará em carregar consigo um possível antídoto a essa homogeneização.

Pensando já ter lido o sobrenome do portador oficial da carteira em algum periódico recente, ela descobre tratar-se do filho de um político corrupto, e tudo aquilo que segue daí é melhor não revelarmos, pois apesar de não termos nenhuma grande surpresa em seu enredo, ele caminha com uma calma e naturalidade que consegue, com acanhados méritos, esconder uma intriga por vezes absurda.

Claramente influenciado por Eric Rohmer e Hong Sang-soo – seja através da simplicidade de sua produção; do registro de um mundo do qual inequivocamente fazemos parte (do corriqueiro aos preciosos acasos); ou pelas constantes andanças destas criaturas incertas e prolixas –, Kobayashi nunca chega aqui perto da precisão de seus mestres, mas consegue com certa desenvoltura encarar frontalmente o ridículo e sair-se com uma obra digna de suas intenções – só não vamos, pelo amor de Deus, cometer o disparate de tentar maiores aproximações com os luminosos O Raio Verde (com o qual o filme irá levemente flertar, particularmente na imagem que ilustra esta resenha), A Mulher do Aviador, Pauline na Praia, Noites de Lua Cheia, Conto de Verão etc. etc.

Bruno Cursini

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