Ano VII

Por Enquanto

segunda-feira out 22, 2012

Por Enquanto (Meanwhile, 2011), Hal Hartley.

Hal Hartley é um nome bastante querido pelo público da Mostra. Confiança, Amateur, Simple Men, Henry Fool têm uma legião de fãs e o cinema inteligente, despojado e moderno de Hartley era sempre uma aposta interessante. No entanto, os anos se passaram e o cineasta passou a se repetir, e a se repetir mal. Resultado: seus filmes escassearam e depois de Fay Grim em 2006, Hartley só fez curtas.

A pergunta que ficou é: por onde andaria Hal Hartley? Ou melhor formulada: por onde andaria o inventivo cinema de Hal Hartley? Teria o cineasta “perdido a mão” para o cinema como Wim Wenders?

Por Enquanto, filme no qual a Mostra ressuscita Hartley, foi produzido pelo sistema de crowdfunding, ou seja, o projeto é colocado na internet e recebe apoios financeiros dos interessados para execução, aqui via página chamada Kickstarter, algo como um ponta pé inicial para começar a execução do projeto. Ele está também sendo vendido diretamente para download na internet.

Ainda assim e voltando ao filme, confirma-se a ideia de que Hal Hartley não é mais o mesmo.  Existe ali algo do cineasta de Confiança, mas nada que lembre o vigor dos seus primeiros filmes. É possível dizer que Por Enquanto é um filme simpático, com personagens com algum carisma e com alguns momentos divertidos, sobretudo o conserto do aspirador de pó. Mas, há uma urgência em dar conta da construção dos personagens nos seus rápidos 61 minutos que fazem com que o filme perca qualquer densidade e evapore tão logo a projeção termine. Celeridade muito distante dos seus outros filmes, com respiros e mais tempos mortos, o que lhe conferia uma interessante alternância de ritmo e tom.

Outra mudança é na estrutura dos planos. Antes a arquitetura destes era sempre abalada por um enquadramento mais estranho ou pela entrada inusitada de um personagem no plano – isso quando algum tipo de vertigem não fazia os personagens desmaiarem e sumirem do quadro. Neste último, temos um plano muito mais estabilizado, com muito menos interesse ou surpresa.

O que resta? Uma história simpática de um homem que tem o dom de realizar pequenos e providenciais consertos num mundo regido e habitado pelo desconserto. Não é, e está muito longe de ser, o tão aguardado retorno de Hal Hartley. Mas é o que dele temos, Por Enquanto.

Cesar Zamberlan

© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br