Ano VII

Chico

segunda-feira nov 28, 2011

Chico Buarque – Chico (2011)

A Interlúdio pode falar de MPB. Mas só quando nos der na telha, e só de quem merece.

Ouvir Chico Buarque de meados dos anos 1980 até hoje é entrar num ambiente seguro, seguro demais, onde tudo está no lugar, quase higienizado, pronto para consumo de burgueses do Leblon ou dos Jardins.

Não há mais tesouros como a fúria apaixonada de uma canção como “Vida”, de 1979, ou os achados poéticos de “Meu Guri”, de 1981, ou a revolta escondida sob a voz de “Cálice” ou “Cala a Boca, Bárbara” ou tantas outras. Há achados poéticos ainda, mas eles já não impressionam mais. Parecem requentados. Por que isso aconteceu?

Nada errado em fazer o oposto de Caetano e aceitar que envelheceu, em querer fazer música segura para os fãs de sempre. Mas sinto que a música do Chico sempre foi assim, muito segura, e por isso os arroubos de outrora caiam tão bem, davam vida às composições, sujavam-nas um pouco. Agora sobrou apenas o “seguro demais”, temperado com os duetos obrigatórios de hoje em dia.

Difícil destacar uma ou outra faixa nos 30 minutos de música que compõem o disco (ao menos Chico sabe que não adianta encher o espaço do CD). Todas se equivalem, todas se parecem nas primeiras audições, e se revelam quase insossas nas audições seguintes. Mas vá lá, “Nina” e “Sinhá” me parecem um pouco superiores que as outras. Não há nada de novo ou desafiador nelas. E seria ingênuo esperar algo assim do compositor. Já que as faixas são, respectivamente, a oitava e a décima (e última) do disco, é como se ele tivesse deixado para o fim os melhores trunfos, convidando o ouvinte a um retorno às outras. Esse retorno, infelizmente, não mudará muita coisa. Quem gostou vai continuar gostando, e quem achou pouco, como eu, vai continuar achando.

Sérgio Alpendre

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