Ano VII

O Importante é Amar

quarta-feira jul 18, 2012

O Importante É Amar (L'Important C'est d'Aimer, 1975), de Andrzej Zulawski

Romy Schneider está tão deslocada em O Importante é Amar, este filme inconsequente e histérico de Zulawski, quanto sua personagem na produção soft core da cena de abertura.

O ambiente cinematográfico francês, segundo o diretor polonês, respira decadência e frivolidade, e é dominado por insanos. Desnecessário dizer: Zulawski se joga de cabeça nessa insanidade. E Schneider continua belíssima aos 36 anos. Mas neste filme já não é mais possível realizar o sonho do cinema autoral como fez com Orson Welles (em O Processo), ou mesmo acercar-se do luxo da nobreza com que começou a brilhar na trilogia Sissi (e no monumental Ludwig de Visconti). Sua personagem vive num mundo decadente em tudo, até mesmo no cinema (e no teatro) autoral.

É o Inferno de Zulawski (se lembrarmos do inacabado Inferno de Clouzot, também com Schneider). Mas esse inferno é menos um lugar consumido pelo fogo do que uma prisão vigiada por cruéis usurpadores da moral (os que mandam nas esferas mais baixas da arte e da cultura). Os mais fortes (aparentemente) dessa esfera se travestem, esbravejam, cantarolam saltitando ao redor das pessoas. Ela, a frágil atriz decadente, só tem uma alma para ajudá-la, mas não percebe isso a tempo. Fabio Testi, a tal alma, perambula pelos teatros da vida como uma Alice no país das maravilhas. Só que as maravilhas são fruto de uma época cujas pessoas se encontravam perdidas, distantes demais dos sonhos sessentistas de mudanças. Vivem na época do desbunde, da alegria inconsequente que esconde uma tristeza profunda.

Zulawski impõe aqui um clima histérico, que desembocaria no insuportável Possessão, seis anos depois. A liberdade do bom Diabel, seu segundo longa-metragem, dá lugar à desilusão filtrada pelo eterno delírio. Poderia ser um belíssimo filme. Mas no processo de afrancesamento do diretor, apesar da bela música de Georges Delerue e da fotografia de Ricardo Aronovich, a ênfase caiu na arbitrariedade de todas as ações e mesmo das soluções narrativas. Tudo paira no ar como um balão solto ao vento. A contundência, assim, se perdeu em meio ao delírio coletivo.

Sérgio Alpendre

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