Ano VII

Fausto

quarta-feira jul 4, 2012

Fausto (Faust, 2011), de  Aleksandr Sokurov

Fausto, filme que encerra a tetralogia de Sokurov composta por Moloch, Taurus e O Sol, é uma obra ainda mais estranha que as anteriores. Estranhamento, como já foi dito em outros lugares, diga-se, reforçado pela escolha da janela 1.37 que torna o filme mais quadrado na projeção, fugindo do enquadramento retangular que estamos acostumados; e estranhamento buscado, sobretudo, na tentativa deliberada e presente em todos os quadros de colocar o espectador numa posição claustrofóbica, desestabilizada ou desestabilizadora diante da imagem oferecida pelo diretor.

Sokurov adapta Goethe com bastante liberdade. Ata diferente pontos da história, o primeiro livro apenas, mantendo uma unidade essencial e por demais já conhecida de todos, tamanha as adaptações e usos do pacto fáustico pela literatura e pelo cinema.  Busca, mais que a fidelidade ao texto, dar ao seu Fausto uma cor, ou não cor, o filme é todo trabalhado sobre tons esmaecidos, e uma forma que também é uma não forma, tamanha a deformação das imagens. Consegue esse intento, de certa maneira, mas o filme, mais que incômodo, acaba por se tornar até cansativo demais, exagerando no seu estranhamento e desestabilização, e levando o espectador ao extremo daquilo que pretende, ainda que o diabo seja gracioso na sua deformidade e trejeitos, e ainda que o texto ironize e atualize certas situações até como respiro a todo peso das imagens.

Não é, e está longe de ser, o melhor Sokurov, e não é também o filme no qual ele consegue trabalhar melhor com seus efeitos visuais com os quais o quadro cinematográfico se aproxima das artes plásticas, mas é inegável a beleza de certas sequências, como na visita de Margarida a Fausto quando esta descobre que foi ele que matou o seu irmão. Há ali uma inversão de olhar no filme e para o filme. Não vemos mais aquele mundo pela sua desgraça ou falta de graça, e nos tons sombrios ou cinzas, o que temos ali é toda a beleza diabólica da jovem, em um dourado forte, luminoso e contrastante com toda a realidade até então nos apresentada.

Com esta imagem, Sokurov consegue traduzir a ideia e o motivo do pacto, a busca desesperada de Fausto por outra realidade e dar conta imageticamente desta aspiração diabólica por um mundo melhor, além do humano. É, de certa forma, pouco para Sokurov, mas é muito em se tratando do cinema recente e daquilo que o circuito nos proporciona ver.

Cesar Zamberlan

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