Ano VII

Homens de Preto 3

quinta-feira mai 31, 2012

Homens de Preto 3 (Men in Black III, 2012), de Barry Sonnenfeld

Após um início desesperador, este terceiro episódio de uma franquia que já nasceu cambaleante salva-se do naufrágio total por muito pouco.  Homens de Preto 3 surge dez anos após o segundo. Nesse tempo, muita coisa mudou, incluindo Hollywood. O blockbuster caiu num redemoinho e nos últimos dois anos entrou numa fase de recesso mental, na qual é difícil termos algo que preste (daí o alívio por Os Vingadores). Barry Sonnenfeld, que nunca foi diretor de verdade, escorrega feio nesta continuação. É mais uma vítima dessa engrenagem que tem fabricado entulho para uma geração contaminada pelo facebook. Claro que esse público vai “curtir”, já que está viciado em tal prática.

O humor que sai da relação entre o sisudo K (Tommy Lee Jones) e o charlatão J (Wil Smith) sempre foi o ponto forte da franquia. Nesta terceira aventura, contudo, as piadas se iniciam sob o signo da infâmia.  O ritmo acelerado estraga as tiradas de Will Smith, e o mau humor de Tommy Lee Jones parece forçado, algo que antes não acontecia. Foi necessário uma volta a 1969 para começarmos a sentir um pouco do tipo de piada que surgia nos filmes anteriores (sugestão de que Mick Jagger seria um ET, Andy Warhol um homem de preto disfarçado, mais uma leve cutucada no racismo americano, que ainda existe, mas naqueles tempos era absurdo). É pouco para fazer de MIB-III um filme. Temos, no máximo, um aromatizante artificial para a pipoca, verdadeira protagonista da sessão.

Homens de Preto 3 reflete muito bem o nosso tempo. Para capturar a atenção da molecada consumidora, não é preciso cuidar da reconstrução de um passado. Para quê? Não importa se estamos em 1969, 2010 ou 2023, tudo tem que parecer um grande videogame. Perdeu-se, assim, a chance de promover piadas cortantes sobre a estranheza que os mais de quarenta anos de distância provocam, e desenvolver melhor as diferenças no contexto social de cada época, algo que o filme chega a sugerir, mas abandona covardemente no meio do caminho. (E o 3D só piora).

Sérgio Alpendre

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