Ano VII

Raul

quarta-feira abr 18, 2012

Raul – O Início, o Fim e o Meio (2011), de Walter Carvalho

Para fazer Raul – O Início, o Fim e o Meio, Walter Carvalho recorre à esfarrapada fórmula dos documentários sobre artistas, categoria mediana por excelência, que ora cai por terra de vez (Dzi Croquettes), ora se eleva surpreendentemente (Um Homem de Moral), mas no geral faz com que os filmes fiquem presos na coluna do meio. Tal fórmula consiste em alternar imagens de arquivo com entrevistas, sendo que estas são montadas por núcleos temáticos, e as imagens de arquivo aparecem como tempero aos caminhos traçados pelas entrevistas. Ou seja, temos duas fórmulas dentro de uma.

Carvalho se diverte com essa velha cartilha. Quando faz a parte histórica, até que engana um pouco, porque as imagens de arquivo, mesmo que mal ajambradas, são fascinantes. Mas falha ao não mostrar uma capa sequer dos discos que Raul gravou depois de Sessão das Dez (com a exceção de A Panela do Diabo, aquele com o Marcelo Nova). Nem mesmo informações mais precisas desses discos aparecem na tela. Nada de Krig-ha Bandolo, seu melhor disco, nem mesmo de Gita, Nova Aeon, ou dos decadentes Mata Virgem e Abre-te Sésamo. Falha também ao não deixar clara a linha evolutiva de sua carreira. Ou melhor, a linha involutiva, já que depois de 1975 os discos de Raul são de irregulares para baixo.

E que ideia estapafúrdia a de transformar o filme em uma apresentação do músico para os leitores da Contigo e quetais. Toda a meia hora final é contaminada por um festival de fofocas (“ela sonhava em ser esposa dele”, a respeito da empregada de confiança da mãe de Raul, ou “eu fiquei com ele até 1984″, logo depois de outra mulher ter afirmado a mesma data, e por aí vai). Quem se importa com essas coisas? A julgar pelos comentários pós-sessão de sábado, muita gente. Enquanto isso, o público interessado no artista fica sem conhecer direito os melhores discos, como eles foram concebidos, gravados, a repercussão, suas capas.

Sobre a polêmica com Marcelo Nova (oportunista ou salvador?), uma das várias linhas interessantes que o filme solta e não segue muito bem (mais por incompetência do que por covardia), minha lembrança é bem clara. Na época era Marcelo Nova quem estava se arriscando. Para Raul Seixas, o empurrão do conterrâneo foi uma benção, uma borracha providencial para apagar um passado recente e vergonhoso de “Rock das Aranhas” e de “Pluct-plact-zum” (como é mais conhecida a música “Carimbador Maluco”).

O filme de Walter Carvalho passa pela carreira de Raul como quem percorre um museu de arte pensando no que vai jantar em seguida. O fã pode até engolir, mas qualquer melômano que se preze vai reprovar. Se pelo menos como cinema estivesse acima do medíocre…

Sérgio Alpendre

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