Ano VII

Xaréu – Memórias do Arraial

quinta-feira mar 29, 2012

Mais uma edição do festival É Tudo Verdade está acontecendo em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Um filme, em especial, certamente irei ver, Xaréu – Memórias do Arraial. Sou suspeitíssima para fazer qualquer espécie de comentário, já que o cinema chegou a mim pelas mãos e pelos corações de Paulo Cezar Saraceni e Mário Carneiro, meu tio e meu mestre, respectivamente.

Estreia na sétima arte da carioca Patrícia Ramos Pinto, ela mergulha nas memórias do cineasta Paulo Cezar Saraceni, voltando a 1959, quando ele filmou, com Mário Carneiro, o curta Arraial do Cabo.

Segundo as palavras da diretora “A experiência de rever as filmagens era buscar através dos personagens, inclusive de Saraceni, que eles olhassem para suas vidas de 50 anos atrás”.

Parei para pensar um pouco sobre isso. Há 50 anos, sinto que os cineastas do cinema novo tinham muito mais que um sonho. Eles tinham um modo de vida. Respiravam e viviam de seu ofício. Eram o que faziam. O ofício simbolizava o que esta palavra tem que simbolizar: o cultivo, a paixão, ou, como diria Paulo Cezar, o tesão por aquilo que se faz. Assim eram feitas as coisas, acredito eu. O artesão com seu talento, despendia todo seu tempo em busca da experimentação, baseada em utopias, crenças, ou revoluções, não importa, mas sim a busca pelo cinema puro, sem amarras, livre. O Cinema Cinema. E dessa obra resultante de seu ofício, toda a dificuldade parecia não ser nada, como um filho que nasce após um parto sofrido. Nunca foi fácil, é verdade, mas a dificuldade se transformava no momento da realização, mesmo que penosa.

Arraial do Cabo é um marco do Cinema Novo. Paulo Cezar Saraceni e Mário Carneiro, mestres do cinema e do afeto, eram o que hoje parece não existir mais. Enquanto o primeiro dançava numa orquestra em que era o próprio maestro, o segundo ia pincelando com as mãos de artista, conduzindo, assim, os dois, o restante dos aprendizes que se apaixonavam por eles e pela história que se transformava em cinema. A sinfonia estava perfeita. Assim eram feitos seus filmes, nas minhas lembranças, que mudaram para sempre minha maneira de ver o mundo.

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Xaréu – Memórias do Arraial

Dia 31/03 – CineSesc – 17 horas

Dia 01/04 – Cinemateca ( Sala BNDS) – 18 horas

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