Ano VII

Sem Saída

sábado mar 17, 2012

Sem Saída (Abduction, 2011), de John Singleton

Não é sempre que o amigo Cláudio Szinkier acerta. Mas desta vez ele acertou na mosca da cabeça branca. Sem Saída não é a obra-prima que ele pintou, mas é certamente um filme que vale ser visto. Como foi dirigido por John Singleton, um dos diretores que hoje em dia são considerados cafonas (como Roger Donaldson, que agora está em cartaz com O Pacto), foi menosprezado pela crítica quando passou nos cinemas.

Os primeiros vinte minutos são de comédia adolescente, com as paqueras, festas e conflitos de gerações habituais do gênero. Enquanto Nathan faz uma pesquisa para uma tarefa escolar, descobre sua foto em um site de crianças desaparecidas, e resolve entrar em contato com o reclamante. Do outro lado da linha, o espectador logo advinha, mercenários que irão atrás de alguma informação sigilosa. A partir daí é o habitual de um filme sobre espiões, que é o que Sem Saída se torna: não se sabe em quem confiar.

Uma boa sacada é deixar que o pai verdadeiro do garoto seja sempre uma figura enigmática. Ele é o maior dos agentes secretos, convém que permaneça invisível mesmo para o espectador, convém que seja uma figura inatingível, mesmo pela lente da câmera. Seria melhor ainda se Singleton sonegasse outras peças para compor o quebra-cabeça humano (vemos sua boca, seus olhos, seu corpo distante). Outra boa sacada é deixar que a câmera instale o caos em cena apenas nos momentos de maior ação (lutas ou perseguições). Parece haver, ao menos da parte dos diretores mais veteranos, uma disposição de retorno a uma câmera mais sóbria, que sofre menos de abstinência alcoólica.

Ao lado de Desconhecido, o divertido longa de Jaume Collet-Serra, Sem Saída é o melhor filme de ação que apareceu nos cinemas brasileiros em 2011. Pode até ser o melhor trabalho de Singleton, caso Boyz'n'the Hood tenha sucumbido à ação do tempo.

Sérgio Alpendre

© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br