Ano VII

A Dama de Ferro

quinta-feira mar 1, 2012

A Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011), de Phyllida Lloyd

Determinada em preservar a conduta política de sua cinebiografada, Phyllida Lloyd faz, com A Dama de Ferro, o drama de uma idosa sofrendo as primeiras manifestações de Alzheimer e, simultaneamente, convalescendo com a perda do marido de longa data. Que tal personagem seja a polêmica ex-premiê britânica, Margaret Thatcher, permanecerá, superficialmente, mera obra do acaso.

Atormentada pelo fantasma de seu companheiro (e, se temos aqui algo a agradecer, é o fato de Lloyd privar o espectador de uma eventual surpresa com o fato da morte do marido da política já ter ocorrido), vemos, em flashback, a ascensão de uma mulher em um meio predominantemente masculino e, sobretudo, misógino. Eis a informação que a cineasta julga fundamental martelar. Esta, e o evento de Thatcher ter crescido em uma família humilde, “de quitandeiros”.

Logo na primeira cena, uma apequenada senhora é constantemente atropelada por insensíveis clientes de uma loja de conveniência, dos quais nenhum se presta a olhar no rosto da frágil criatura em frente ao balcão. Após comprar seu meio litro de leite, passando pelo barulhento tráfego, ela volta aos cuidados de sua filha e de seus funcionários. O ponto de Lloyd é claro, mas sua condução, assaz pesada (“de ferro”, diria o outro…). Vejamos, por exemplo, a maneira pela qual ela demonstra a frustração de sua personagem: ao longo do filme, a primeira-ministra manifesta, diversas vezes, que o papel da mulher não deve ser resumido aos cuidados com seu lar. Na cena final, obviamente, a vemos sozinha, na pia, xícara e sabão em mãos.

O revés, nesta “Thatcher segundo Lloyd”, é a impossibilidade de uma vencedora (inteligente, desbravadora, feminista, icônica) em conciliar seus feitos (quais? como? sob quais circunstâncias? Não importa…) com o amor verdadeiro de uma vida toda.

Membros ingratos de uma sociedade incapaz de reconhecer seus heróis, acompanhamos (supostamente tristes e culpados), uma solitária, caduca e melancólica senhora, em seu quarto, definhando. Sai de cena a velhinha; martirizada, enfim.

Bruno Cursini

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