Ano VII

O HOMEM QUE MUDOU O JOGO

segunda-feira fev 27, 2012

O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011), de Bennett Miller

Baseado no livro Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game, de Michael Lewis, O Homem que Mudou o Jogo é o novo trabalho de Bennett Miller (Capote), em cima de um roteiro de Aaron Sorkin (A Rede Social, Jogos do Poder, Questão de Honra) e Steven Zaillian (Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres, A Grande Ilusão).

Tal excesso de informação – mais do que caminhar de acordo com as estatísticas que possibilitaram esta história de acontecer – compõe os dados centrais para a compreensão das regras nas quais o filme tão claramente se impôs: um episódio real de perseverança, contado com pitadas documentais, baseado nos diálogos e cujos subtextos estão, invariavelmente, ligados às relações de poder entre os envolvidos.

A preocupação central de Miller e  seus roteiristas, foi narrar um fato edificante, em meio ao mundo esportivo, sem cair nas convenções deste que é, praticamente, um subgênero do cinema. Para tanto, a ação ocorre, majoritariamente, nos bastidores da competição (MLB) e envolve os executivos das equipes: no caso, primordialmente, Billy Beane (Brad Pitt), gerente geral do Oakland Athletics, e seu jovem analista, Peter Brand (Jonah Hill).

E é em sua ânsia desmitificadora que o cineasta crê ter em mãos um grande achado: após perder o título da divisão para o milionário New York Yankees, e terminar em segundo a American League West, em 2001, o A’s vê-se amputado, com seus principais jogadores vendidos às grandes franquias.

Ignorando seus auxiliares tradicionais, Beane contrata Brand para, contra o senso comum, investir em nomes menosprezados pelos rivais. Em pauta, o embate entre a romântica tarefa dos olheiros e os gelados dados de um sistema que mede os desempenhos dos jogadores. Conhecimento empírico X Racionalismo científico, portanto.

Para Miller, essa quebra de tabu (pois, com esta nova aposta, a equipe passara de 11 derrotas consecutivas a 20 vitórias seguidas, estabelecendo assim um novo recorde na Liga Americana) parece suficiente para que seu esforço, em suplantar um típico conto de superação profissional esportista, resulte bem-sucedido. No entanto, em direção oposta à sua intenção, está o passado de Beane: uma estrela frustrada do baseball, ele mesmo fruto de uma avaliação equivocada dos patrulheiros de jovens talentos.

É aqui, onde a exploração de um trauma vem a, comodamente, justificar as futuras decisões do problemático executivo e impor aos fatos calculadas doses sentimentais, que Miller demonstra insegurança em sua condução: apesar de seus recorrentes closes introjectivos, cortes rápidos e câmeras na mão, O Homem que Mudou o Jogo é muito mais uma corriqueira história de um personagem lidando com seus temores, do que o relato objetivo de uma mudança de paradigmas, com a dura vitória da tecnologia frente aos modos tradicionais, seja ele no esporte ou em qualquer outro campo.

E, encarado assim, resta-nos algo mais honesto: a narrativa de um típico perdedor que, por uma obsessão (no caso, levar seu time às finais), renega um atalho à consagração, assumindo um fardo que se vê obrigado a carregar, não por delegação, mas inerência. Fosse esse aspecto mais trabalhado – e julgando por este prisma -, um outro desvio de Miller e Cia. fora ter calcado seu filme por A Rede Social: já que estavam com David Fincher na cabeça, que fosse Zodíaco o molde de sua forma (dica esta, que extrapola os limites deste caso específico).

Bruno Cursini

 

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