Ano VII

Precisamos Falar Sobre o Kevin

terça-feira jan 31, 2012

Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, 2011), de Lynne Ramsay

Precisamos Falar Sobre o Kevin é uma tentativa frustrada de inserir, no gênero terror, o típico drama familiar dos filmes dito independentes. Pela sinopse, temos a impressão de que esta segunda instância predominará, e que iremos acompanhar a derrocada de uma família cujo filho adolescente havia há pouco cometido um massacre nos moldes de Columbine. No entanto, logo nos primeiros planos do filme, o que impera é o aspecto espetacular da coisa, com a diretora Lynne Ramsay optando por embaralhar a cronologia dos fatos para, assim, poder até mesmo reservar ao clímax uma surpresa final.

Não vamos nem entrar no mérito da banalização do tema, afinal, esta tem sido uma prática na qual o cinema tem, particularmente, se especializado. O que incomoda, e isso desde essas primeiras imagens, é o gosto da cineasta pela reles imundice, onde tudo opera a favor do escatológico e sanguinolento – dos tomates esmagados à geléia nos pães – e, sobretudo, para os forçosos laços perversos que ligariam ininterruptamente Eva (a mãe do sociopata) ao filho.

Pois, se a gênese do mal se dá no fato de uma gravidez manifestamente indesejada (e essa é uma posição que Ramsay não se cansará de reiterar, mostrando a vida pré-gestação de sua personagem Eva como um suposto Éden e seu presente, a danação eterna), nada nos resta além de acompanharmos sua adequada condenação, na qual o final lógico – e essa talvez seja a pressuposta razão para a consagração do filme – seja o reconhecimento de seu vínculo primordial com sua própria cria, sua extensão natural.

Surpreende o fato desta pobre lógica determinista fazer com que alguns confundam este mais leviano dos filmes como algo além de um malfadado exercício de estilo. Talvez, esses tenham se deixado levar pelo elenco, com nomes como Tilda Swinton e John C. Reilly ou, até mesmo, pelo fato de tratar-se de uma adaptação do romance homônimo de Lionel Shriver, lançado em 2003, para aclamação da crítica. Imenso cochilo e possível erro duplo, uma vez que o elenco nada faz além de responder à visceralidade redundante de Ramsay, e do livro – ao menos segundo quem o leu – só restou uma sombra extravagante dos fatos e personagens.

Bruno Cursini

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