Ano VII

Os Muppets

quarta-feira jan 11, 2012

Os Muppets (The Muppets, 2011), de James Bobin

Um número musical apresentado mais ou menos ao meio da projeção de Os Muppets discute  um problema central aos personagens que reflete um dilema inerente ao filme. Na canção, intitulada “Man or Muppet”, os irmãos protagonistas Gary e Walter, um humano comum e um boneco, respectivamente, questionam suas identidades e o rumo que suas vidas deverão tomar, assumindo as suas identidades diversas e quebrando os laços inseparáveis que os uniam até então. Se os personagens acabam por resolver suas questões pessoais da melhor forma, o filme em si acaba padecendo de questões semelhantes que não se resolvem de maneira satisfatória. E a questão seria uma insegurança em se assumir completamente como um filme dos Muppets.

Como o roteiro bem destaca, os Muppets seriam figuras de um passado distante (a década de 70 do século passado) e se faz necessário apresentá-los a uma nova geração. O filme opta por introduzi-los ao espectador através dos já citados irmãos e lá se vai quase meia-hora até que os Muppets venham a participar de fato no filme. Com isso acabam muitas vezes assumindo um papel coadjuvante quando deveriam ser de fato os protagonistas.  Aí está a grande fragilidade do filme conduzido por James Bobin.

A partir do momento em que eles entram em cena, o filme cresce, diz ao que veio, não importando se o pressuposto dramático se faz de maneira idêntica ao do clássico Os Irmãos Cara de Pau de John Landis: é preciso reunir a velha galera e montar o show para juntar a grana e salvar o velho teatro (no lugar do colégio das freiras). E assim se faz, com alguns esquetes eficientes, que valorizam o caráter nostálgico e as referências ao programa de TV e aos antigos filmes dos Muppets, em especial The Muppet Movie (1979), assumindo desavergonhadamente que estamos diante de um produto que trabalha sobre um material reciclado. As reconstituições de trechos do Muppet Show emocionam os velhos fãs e divertem conseguindo resgatar em certos momentos – em especial os que envolvem o “convidado” Jack Black – um caráter anárquico que sempre esteve evidente no passado, tornando os Muppets figuras que trafegam muito além de um universo infantil.

No entanto, o filme volta e meia insiste em voltar a Walter e Gary, caindo nas facilidades de um sentimentalismo raso e um didatismo politicamente correto. Nessa lógica, muitos Muppets carismáticos (Gonzo ou Scooter, por exemplo) acabem passando praticamente batidos pelo filme e uma atriz do quilate de Amy Adams é totalmente desperdiçada. Apesar de momentos que operam um belo resgate na memória afetiva, a sensação à saída da projeção é a de estar diante de algo feito pela metade, que poderia render muito mais do que ocorre. Pensando nas músicas apresentadas no filme, seria muito melhor se tivéssemos mais “Manah, Manah” e menos “Life Is a Happy Song”.

Gilberto Silva Jr.

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