Ano VII

Margin Call

quarta-feira dez 14, 2011

Margin Call – O Dia Antes do Fim (Margin Call, 2011), de J.C. Chandor

Margin Call remete obviamente aos dois Wall Street de Oliver Stone, já que o assunto é predominantemente financeiro (e mais, sobre aplicações, com sede em Nova York), mas o filme com o qual guarda semelhanças mais fieis é, sem dúvida, Treze Dias Que Abalaram o Mundo, de Roger Donaldson. Ambos têm a direção elegante como os ternos dos personagens, ambos conseguem extrair a tensão principalmente dos diálogos e das representações dos atores. Num são treze dias, noutro são pouco mais de treze horas.

Qualquer pessoa com mais de 20 anos lembra do impacto que teve a crise retratada pelo filme, em setembro e outubro de 2008, que muitos diziam ter relação com o estouro da bolha da internet no começo do século 21. O clima, também aqui no Brasil, era de apreensão. Lembro de uma entrevista muito propagandeada do economista americano James Galbraith para a Folha, em 2008, em que ele dizia que o pacote feito pelo governo americano era insuficiente para aguentar a crise. Dizia também que seria muito melhor que Obama ganhasse as eleições, já que a maior parte da equipe que causou o estrago trabalhava pelo partido do senador McCain. Poucos meses depois, os economistas brasileiros respiraram aliviados porque a crise não nos afetou como a outros países ricos. Não entendo nada de economia, mas imagino que se estivéssemos no começo do plano Real, com tudo ainda meio incerto e frágil, seríamos atingidos em cheio.

O que quero dizer com isso é que não é difícil imaginarmos a tensão pela qual passavam esses economistas que vemos no filme, todos interpretados por atores muito bem escolhidos dentro das características de cada personagem. Kevin Spacey como o executivo que não quer saber das coisas para aumentar suas chances de sobrevivência (e também porque está anestesiado pela morte de sua cadela), Stanley Tucci como o cara que é demitido justamente no momento em que está prestes a descobrir a bolha “assassina”, Paul Bettany como o jovem executivo que vê tudo com cinismo e apreensão, escondidos por uma aparente ambição desmedida, e Jeremy Irons (ator magnífico quando quer), que faz o manda chuva que não sabe de nada, mas entende tudo. Até Demi Moore está bem como a analista de riscos. São personagens que serão demitidos, ou ganharão uma bolada extra para participarem de uma manobra nada ética, ou lutarão com unhas e dentes para garantir seus rendimentos. Personagens em suspensão, futuros párias do capitalismo.

J.C. Chandor é estreante. Não é nenhum Roger Donaldson (que é um artesão ainda subestimado), mas mostra que está no caminho certo. Adota um estilo sóbrio, que respeita o tempo das tensões em cena, algo que 99% dos diretores americanos atuais são incapazes de fazer.

Sérgio Alpendre

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