Ano VII


Ou techno-pop, como ficou conhecido na época por aqui. Algo entre o New Wave de bandas como Cars e a Dance Music que surgiria com muita força no final dos anos 80, embalada por Ecstasy. Os pais do estilo são obviamente os alemães do Kraftwerk. É um som datado (nada de errado nisso), deliciosamente dançante, com melodias marcantes e teclados climáticos.

Por Sérgio Alpendre

HORS CONCOURS: Kraftwerk – Radioactivity (1975)

O marco zero do synth pop, aqui ainda em fase embrionária, é muito pouco dançante (ou nada dançante). Entra aqui como hors-concours, pois sua importância é inestimável. Ouvir a faixa título é um deleite sempre. Não somos transportados a 1975, mas a algum lugar do futuro, de séculos adiante. Para os cinéfilos, difícil não lembrar de uma cena marcante de Roleta Chinesa, de Fassbinder. Destaques: todas as faixas são essenciais.

Kraftwerk – Trans Europe Express (1977)

Este já é mais dançante, com a banda percebendo muito bem a tendência Disco e traduzindo-a para seu território. Não é tão bom quanto Radioactivity e Man Machine, mas está muito perto. Destaques: Trans Europe Express, Metal on Metal, The Hall of Mirrors.

Kraftwerk – Man Machine (1978)

Se existir um único ponto de partida é este. Mais propriamente a música “The Model”, espécie de hino de pistas de dança no mundo inteiro, sem precisar de remixes na maioria das vezes. A banda alemã que começou no Krautrock, com forte acento floydiano, forjou clássicos do pop eletrônico desde 1974, até gerar filhotes que iriam deflagrar a alcunha, perjorativa para alguns incautos. Destaques: The Model, Neon Lights, Robot.

Human League – Travelogue (1979)

Este segundo disco da banda é um grande divisor de águas. Philip Oakey, Martin Ware e Ian Craig Marsh (os dois últimos formariam o Heaven 17 no ano seguinte) forjaram um clássico discípulo de Kraftwerk mais afeito a uma festa apocaliptica do final dos 70s. Mas não seria exagero selecioná-lo para uma lista de progressivo. O disco seguinte, o bem mais pop Dare, já sem Ware e Marsh, ainda é bacana, mas não chega perto do que eles criaram aqui. Destaques: The Black Hit of Space, Dreams of Leaving, Only After Dark, Being Boiled.

Simple Minds – Real to Real Cacophony (1979)

Banda que passa ao largo do tecno-pop, mas que, neste segundo disco, por acaso o melhor de sua longa carreira, enveredou pelo estilo com propriedade inigualável. Por mais que seus experimentos progressistas dos discos seguintes sejam muito bem sucedidos, é difícil igualar esta pérola de composições perfeitas e instigantes. Destaques: Real to Real, Factory, Changelling, Film Theme.

Tubeway Army – Replicas (1979)

OK. O disco seguinte, The Pleasure Principle (como Gary Numan) contém “Cars”, o grande clássico. Mas não houve evolução, apenas uma talentosa repetição do que foi conseguido com este belo disco, o segundo da banda, lançado logo depois do clássico do Kraftwerk, Man Machine. Destaques: Me! I Disconnect From You, Are “Friends” Electric?, The Machman.

Orchestral Manoeuvres in the Dark – Organisation (1980)

O segundo disco do OMD já é um clássico. Aos primeiros acordes sintetizados de “Enola Gay” já sentimos vontade de dançar. Mas o grupo não se satisfaz com as facilidades de uma pista de dança e capricha na sonoridade levemente industrial, criando um clima meio soturno às suas canções. Destaques: Motion and Heart, Stanlow, Promise. Enola Gay.

Ultravox – Vienna (1980)

Muitos preferem a fase mais pós punk, com John Foxx nos vocais. Bobagem. O grande clássico da banda é este sensacional Vienna, onde Midge Ure arrebenta em energia, com uma voz deliciosa e uma guitarra cortante como poucas no estilo. Destaques: Vienna, All Stood Still, Sleepwalk.

Visage – Visage (1980)

Steve Strange arregaça na postura new romantic. As melodias parecem de outro mundo, das faixas climáticas às mais dançantes. Destaques: Fade to Gray, Mind of a Toy, Visa-age.

Heaven 17 – Penthouse and Pavement (1981)

Mais festivo que a primeira formação do Human League. O H17, no entanto, carrega no intelectualismo. Um paradoxo. Os discos são mais dançantes e mais amargos ao mesmo tempo. Este é o primeiro da banda. O segundo e o terceiro também são recomendáveis. Destaques: (We Don’t Need This) Fascist Groove Thing, Penthouse and Pavement, Let’s Al Make a Bomb.

Kraftwerk – Computer World (1981)

Depois de uma ausência de quatro anos, os pais do tecno-pop voltam para se afirmarem como deuses do estilo. Ainda mais radical, o disco sugere um mundo totalmente dominado por computadores, desde os arranjos até os vocais robóticos e monocórdicos. Destaques: Pocket Calculator, Computer Love, It’s More Fun to Compute.

Orchestral Manoeuvres in the Dark – Architecture & Morality (1981)

O terceiro disco do grupo segue a tocada do segundo, mas com, talvez, um clima industrial mais acentuado. OMD propõe uma diversão intelectualizada. É inegável a influência que este disco teve nos anos 80, sobretudo em duas obras-primas do Depeche Mode (Construction Time Again e Black Celebration). Destaques: Souvenir, The New Stone Age, Georgia. She’s Leaving.

Soft Cell – Non Stop Erotic Cabaret (1981)

Letras sacanas, vocal levemente inspirado em Jacques Brel e Scott Walker, glamour em alta. A receita do Soft Cell tinha a cara daqueles anos. Marc Almond é o Lou Reed do desbunde eletrônico. A grande “Torch”, um dos maiores hits da banda, não faz parte do disco original. Foi incluida no CD inglês como uma das bonus tracks. Destaques: Bedsitter, Tainted Love, Youth, Chips on My Shoulder.

Visage- The Anvil (1982)

O primeiro (também selecionado) é sensacional. Mas o segundo, The Anvil é ainda melhor, e tem a ajuda de Midge Ure, com seu dedo infalível para canções pop. É um disco pegajoso e dançante nas medidas certas. Destaques: The Damned Don’t Cry, The Anvil, Night Train, The Horseman.

Soft Cell – The Art of Falling Appart (1982)

O segundo disco da banda só não é tão bom quanto o primeiro porque é uma tarefa quase impossível igualar aquela obra seminal. Mas as melodias continuam brilhantes, apenas as letras estão menos ácidas aqui. Destaques: Where the Heart Is, Baby Doll, The Art of Falling Apart.

Depeche Mode – Construction Time Again (1983)

O terceiro disco do Depeche incorpora ruídos industriais aos teclados e resulta num mix intrigante de música acessível com experiência quase hermética. Agumas faixas, no entanto, são pura delícia pop. Destaques: Two Minutes Warning, Love In Itself, More Than a Party, The Landscape is Changing.

Naked Eyes – Burning Bridges (1983)

Uma surpresa constatar o quanto este disco resistiu ao tempo. Ou voltou a ser legal…coisas cíclicas que nos pegam desprevenidos. A banda estourou com “Always Something There To Remind Me”, de Burt Bacharach. Mas tolo é aquele que achar que só essa presta neste álbum delicioso. Destaques: Always Something There To Remind Me, Voices in My Head, A Very Hard Act to Follow, Could Be, The Time is Now.

New Order – Power, Corruption & Lies (1983)

Foi o disco que mais demorou a cair na minha preferência entre todos que a banda lançou. Provavelmente eu estava errado e o disco já era uma obra-prima em 1983. Talvez seja o tipo de obra que é melhor apreciada por quem já tem uma certa bagagem. Talvez a beleza da capa faça com que esperemos outra coisa, atrasando um pouco a justa apreciação de suas belas faixas. Destaques: Age of Consent, We All Stand, Ecstasy, Your Silent Face, Leave Me Alone.

Tears for Fears – The Hurting (1983)

Quando este disco surgiu não foram poucos os críticos a classificá-lo como synth-pop intelectual, um contraponto ao desbunde dançante de grupos como Yazoo, Depeche Mode (nos primeiros dois discos) e Human League. Agora que o estilo parece distante, fica até estranho considerá-lo como tal. Mas os indícios estão lá, na batida programada, na linha de baixo pelo sintetizador, no clima dançante da maioria das faixas. Anos depois, com a falta de tato dos DJs da acid-house, poucas faixas serviriam para uma pista de dança, ainda assim sendo devidamente remixadas. De volta a 1983, e em qualquer pista moderninha de hoje, dá pra dançar bastante com este disco. Pena que depois a banda afundaria em sua própria pretensão. Destaques: Mad World, Pale Shelter, Watch Me Bleed, Change.

Clan of Xymox – Clan of Xymox (1985)

Da Holanda surge esta banda que funde à perfeição duas grandes tendências do início dos anos 80: o techno-pop e o gótico. Infelizmente, a banda começou a decair no terceiro disco (Twist of Shadows), com o nome já encurtado para Xymox, e descambou para uma dance music vulgar no quarto (Phoenix, que ainda assim tem uma ou outra faixa especial). Só anos depois é que voltou ao estilo que os consagrou, e ao “clan of” no nome. Destaques: A Day, No Words, No Human Can Drown.

Clan of Xymox – Medusa (1986)

Com uma sonoridade mais pendente para o gótico climático, e quase nada (ou nada) de techno-pop, a banda holandesa de Ronny Moorings chega ao segundo disco ainda com tudo. Muitos consideram este o melhor momento da banda, e provavelmente estão certos (justificando a liberdade de colocá-lo numa lista de synth-pop). Destaques: Medusa, Michelle, Louise, Masquerade.

Depeche Mode – Black Celebration (1986)

O próprio nome indica. É um disco cheio de canções sombrias com arranjos de filme de horror. É também um disco com sonoridade grave, meio abafada (talvez até demais). Mas é uma maravilha. Provavelmente a mais profunda e mordaz crítica ao império britânico feitas na música pop dos anos 1980, Black Celebration tem melodias inesquecíveis como a do hino “A Question of Lust”. Destaques: A Question of Lust, Stripped, Dressed in Black.

Kraftwerk – Electric Cafe (1986)

O gênero synth-pop estava em franca decadência, tendo perdido terreno (que nunca foi lá muito fértil para ele) nas paradas para o Euro Disco, o rap e o hair metal. Eis que volta a banda-pai do estilo para botar as coisas no lugar em um disco com o qual ninguém consegue ficar parado. Destaques: The Telephone Call, Techno Pop, Musique Non Stop.

New Order – Brotherhood (1986)

Synth-pop tardio, apesar de ainda pertencente a um espirito que regia as regras do estilo. Muita gente discorda da escolha deste disco entre os do New Order. Mas considero-o bem superior ao badalado Low-Life. O disco seguinte, Technique, seria ainda mais eletrônico e dançante. Depois viriam os projetos (Eletronic, Monaco) que iriam dar no que foi chamado de Electro. Destaques: Paradise, Bizarre Love Triangle, All Day Long, Angel Dust.

Pet Shop Boys – Please (1986)

Primeiro álbum do duo já mostra a que vieram. Canções de forte apelo pop com arranjos eletrônicos. Um bom ensaio para o painel das emoções humanas que é o segundo LP, Actually. Destaques: West End Girls, Opportunities (Let’s Made Lots of Money), Love Comes Quickly.

Pet Shop Boys – Actually (1987)

Curioso que alguns dos melhores discos do estilo foram feitos durante sua agonia. As pistas de dança ferviam outros estilos (no Brasil, The Cure, The Cult e The Smiths), tornando a expressão synth-pop (que eu não canso de repetir) algo pré-histórico. Muito descolado daria risada da denominação quando usada para músicas tipo “It’s a Sin”, clássico maior deste álbum. Destaques: It’s a Sin, Hit Music, What Have I Done to Deserve This, It Couldn’t Happen Here.

The Beloved – Happiness (1988)

Inspirado em Pet Shop Boys, ou seja, a vertente menos ingênua do synth-pop, o jornalista Jon Marsh junta-se a Steven Waddington num dos mais inspirados duos dos anos 80. Mesmo que seu segundo disco tenha decepcionado, esta estréia permanece como exemplo de disco dançante, que os puristas vão chiar por ter sido classificado como synth-pop. Ignoram que o gênero é grande e abarca suas desnecessárias subdivisões. O som dos Beloved é uma delas. Aliás, um dos melhores discos dançantes de todos os tempos. Destaques: Time After Time, Don’t You Worry, The Sun Rising.

Depeche Mode - Violator (1990)

Synth-pop em 1991? pode soar esquisito, mas dez anos depois do auge do estilo, o Depeche Mode faz o disco definitivo. Maduro, melancólico, dançante, e altamente considerável dentro do estilo. A banda já havia feito Black Celebration, um clássico da politização via sintetizadores que podia muito bem estar nesta lista. Parece que com Violator o Depeche Mode quis botar uma pá de cal no estilo, desbundando para o grunge no LP seguinte.  Destaques: Sweetest Perfection, Enjoy the Silence, World in my Eyes, Policy of Truth.

Depeche Mode – Songs of Faith and Devotion (1993)

Aqui, Martin Gore, Dave Gahan, Andrew Fletcher e Alan Wilder  flertam com o grunge, sem abandonar suas raízes synth pop e as faixas pesadas e soturnas que fizeram sua fama também junto aos góticos. Mais uma obra-prima desta grande banda britânica. Destaques: Mercy In You, In Your Room, One Caress, Higher Love.

Pet Shop Boys – Very (1993)

Disco grandioso e com clima de cabaré do futuro, Very parece uma coletânea de melodias acachapantes do começo ao fim. Após dois discos talentosos, mas de indefinições (Introspective e Behaviour), esta obra alegre e desvairada coloca a banda novamente nos trilhos. Destaques: Can You Forgive Her?, I Woldn’t Normally Do This Kind of Thing, A Different Point of View.

New Order – Get Ready (2001)

Depois de ter passado os anos 1990 com apenas um disco confuso (ainda que valioso em diversos aspectos) e projetos irregulares, o New Order chega com este petardo inigualável de heavy synth pop. Na verdade, há pouco de synth no disco. O tom está dado já com a energética “Crystal”, uma das músicas que escancararam o século XXI. Destaques: Crystal, Primitive Notion, Rock the Shack.

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